agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quarta-feira, março 12, 2008

Relatos Obscênicos de Erica Vilhena, a Nêga.

MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES 07/03/2008
Depois do ato o meu ato narrativo
Eu, uma mulher de 28 anos, dos quais onze foram dedicados à minha família uma vez que aos dezessete minha mãe fora presenteada com mal de Alzheimer. Venho aqui oferecer meu ventre. Aos que para ele quiserem voltar seus cálidos olhos digo que não me comprometo com integridades alheias, até mesmo porque estou abrindo mão mesmo da minha. Sim. Recuso a integridade socializada, civilizada e opto pelo bem da minha integridade humana, feminina e autônoma. “_Mas por que tanta rebeldia, minha filha?” Alguns poderão perguntar... Digo tudo isso para que outras possam ler e comungar de minhas mazelas e conquistas, e assim a vida se passa de mão em mão, a colcha da cultura feminina em reconstrução. Olhando mais de perto confesso que desde os quinze construo minha vida e imagem fundamentadas não em meus reais desejos e sim para o bem daqueles que comigo convivem, inclusive um namorado que cultivei até os dezenove, com quem eu casaria e teria tido lindos filhos. Mas, não. Esvazie-me dele, do amor que por ele sentia, de todas as cartas com amor escritas, de todos os bichos de pelúcia angariados valentemente em máquinas de parques e fliperamas, não sou da época das lans houses... Abri mão de toda nossa história para ir atrás da minha. Mas isso durou até pouco, pois se iniciou outra fase. Entre os 20 e 21 anos, ouvi ostensivamente dos homens de minha família palavras de extrema delicadeza e sutil aniquilamento – pai e filho negando a parte histérica da família, eu e minha mãe adoecemos: o vírus da alienação feminina me contagiou e instaurou-se em mim. O Alzheimer ocupou-se em desconstruir a memória cultura hábitos e atos de minha mãe. Assim, prossegui desavisada da vida, entre tentativas às cegas de fuga da opressão que sentia e crises histéricas semanais. E uma pergunta não se cala: POR QUE AS MULHERES ENLOUQUECEM? Por que será? Enfim. Fui cair em Ouro Preto e meu mundim foi rompido de vez! Desvirginada novamente, só agora ao invés de um membro rijo, havia subidas e descidas escorregadias, becos escuros e inóspitos e uma imensa curiosidade no ar que levava a todos a se desprenderem de valores e princípios pra se beneficiar da liber(tinagem)dade que a cidade promove: ‘ouro preto é festa!’Comigo não fora diferente. Anestesia diária. Anestesia refratária. Anestesia pragmática. Anestesia primária. Anestesiar-se de si, do outro e do mundo. Outro homem surgira. Dessa vez uma paixão daquelas que tiram a gente do chão até porque nos passam a perna, literalmente. Entre mortos e feridos caminhei. Confusão mental, porta aberta para um lobo entrar e degustar de minhas histórias, medos, credos, fantasias e vísceras. Foi assim. E após um lobo a bonança. Em forma de mais um homem. Este estendeu-me a mão e não sei bem o preço desse ato até o presente momento. Parece a música de Chico Buarque: ‘_o primeiro me chegou...’ Enfim, o tempo ainda não é suficiente para dizer desse último, mas é o bastante para falar de mim. Eu, 28 anos. Eu e minha batalha por me encontrar erguer e seguir. Eu e minhas referências femininas. Eu a andar pelas ruas de BH em marcha, na MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES. A voz embargada frente à prefeitura com uma tropa de choque a garantir a tranqüilidade burocrática. Minha mãe, professora aposentada, mal paga, sugada pelo estado. Ela e tantas tantas tantas outras e eu ali. Eu, Lica e muitas outras a carregar bandeiras, palavras de ordem, seios, barrigas, bundas e bucetas a gritar por um desejo em comum: AUTONOMIA!. Pequenas e tímidas ‘ações diretas’ contra Carrefour, Bradesco e demais instituições capitalistas estaduais municipais. O sol muito quente e nós: eu e Lica – a carregar uma bandeira. Senhoras moças crianças e bebês sendo puxados em seus carrinhos. Já ali, tão pequenos e suspensos e presentes na luta de suas mães. Diversas classes sociais e movimentos revolucionários. Todas unidas por um bem comum ao nosso gênero. E assim foi. E assim se foi muito rico. Lembranças de tudo o que comporta meu nosso universo feminino.

2 comentários:

Clóvis Domingos disse...

Erica, que texto transparente e tocante....
Senti você e toda sua força nessa escrita!!!!!!
A coragem, a reflexão, a exposição....tantas perguntas, que continuem sendo eternamente perguntas....

Clóvis Domingos disse...

Erica, que texto transparente e tocante....
Senti você e toda sua força nessa escrita!!!!!!
A coragem, a reflexão, a exposição....tantas perguntas, que continuem sendo eternamente perguntas....