agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

segunda-feira, março 31, 2008

Relatos Obscênicos de Erica Vilhena, a Nêga.

Relato(´orio) Obscênico - O vazio 24/03/2008
Hoje, por fim, partimos para a prática. O grupo uniu-se para exercitar as propostas de Patrícia e minha. Cheguei atrasada. Nada positivo para quem trás consigo um dos motes do encontro. A chuva, o quebra-cabeça à procura dos objetos pertinentes. A ansiedade de ver os corpos a mover-se, corroendo-se no exercício de reinventar-se. Parte do grupo estava no Mezanino, como combinado e Patrícia chega propondo que fossem para o palco. Eu adentrei o Marília nessas condições. Com um saco de pipoca, uma sacola, uma super mochila e uma sombrinha nas mãos. Excitada e envergonhada. Fomos para o palco. Alojei a mochila e demais bagagens no banco e troquei idéias e beijos com os que chegavam. Troquei de roupa e cumprimentei Bacelar que estava ali com seus cabelos ao vento e eu a me perguntar: ué, num entendi? Alonguei-me como pude, Lica muito sabiamente colocou-me em meu devido lugar quando pedi mais tempo para me aprontar. Ainda bem que temos pessoas a nos acompanhar pela vida! Patrícia pede que desçamos do palco e façamos algo como um ‘groundin’ na frente da primeira fila. Inspirar descer enraizar-se expirar subir permitir que o chão nos impulsione. Subimos para o palco e em roda – groundin; ir para o chão = RELAXAR = ESPREGUIÇAR AS ARTICULAÇÕES – PASSAR PELOS PLANOS NESSA AÇÃO – em pé = sacudir – pêndulo – girar – mola + passar pelos planos nesse exercício. Enquanto todos, menos MAROCA BOBOCA, MARCHELO, IZA E CRIS MOREIRA QUE NÃO APARECERAM, foram tomar notas e água aprontei o espaço. Meia lua com os objetos. Os atuantes surpreenderam-se com as duplas e trio, por mim propostos, para o procedimento. Ofereci a Bacelar os objetos que seria de Iza e Cris, expliquei mais ou menos do que se tratava e preparei a câmera para registrar. Nina perguntou se haveriam indicações, _não, não há indicações. Façam, exerçam uma trajetória com o objeto + narrativa + o outro que o acompanha + o espaço que os compreende. Pode esse procedimento gerar uma ação cidadã? Desejo persistir nessa experiência, conto com a generosidade do grupo. Creio que tal procedimento é latente por que o indivíduo vê-se como dirigente da própria ação uma vez que lhe são entregues um ou mais objetos e um outro ser de sua espécie encontra-se a seu lado para agirem paralelamente dentro de um determinado tempo espaço. O modo como cada um se coloca diante do objeto e do outro trás referências da maneira como o ser humano organiza-se em comunidade. Podemos dizer que este exercício pode ser a tentativa de gerar um micro cosmo uma reverberação do todo socioeconômico e cultural que nos abarca, que gera e alimenta nossa realidade. Comportamentos são suscitados ao longo do procedimento e estes são evidentemente pertinentes a determinadas classes sociais – a imagem da mulher em cada uma delas, a função da mulher em cada uma delas, o ponto de vista feminino em cada uma delas. Da puta a casada. Do pregador ao apregoador. Do transvertido ao transtornado. Do solitário ao casado. Em todos os casos a mulher como bueiro do mundo. A mãe terra que sorve as mazelas do mundo e o transforma. A mãe terra cansada abatida frente ao homem capitalista, machista suvinista. E cansada também frente à mulher conformista reprodutora de mão de obra barata, romântica alienada de sua função nessa existência. Não há problema em ser puta ou freira ou casada desde quando essa é uma opção da fêmea e não do contexto socioeconômico. Que cada um exerça sua função nessa terra sem precisar escravizar-se ao outro, nem mesmo no exercício teatral. Por isso defendo uma postura de atuantes e não atores, em verdade somente mudo o conceito no intuito de nos desvencilharmos dos conceitos de interpretação e/ou representação. Uma pergunta a mais se coloca: é necessário tomar somente os objetos que ofereci como possíveis para o exercício? Creio que não. Esses foram somente impulsos que tive e desejei que reverberassem em todos. Os objetos que puderem somar nossa criação devem ser trazidos, pois já não domino mais esse procedimento compartilho-o com todos. Que ele seja instrumento de transformação perene em nosso agrupamento. O caos cultivado produzido exercitado apreendido concretizado assimilado fisicamente e novamente desconstruído ‘caotizado’ ‘caosficado’. Após a prática, que não descreverei aqui porque já temos a fita de vídeo com meu registro, fiz alguns apontamentos:
1- Somos fruto de uma contemporaneidade vazia, daí nossa dificuldade em compor no vazio?
2- Será que devemos compor e decompor as formas criadas com rapidez? Por que não degustamos mais o que fazemos?
3- Será que o outro que me acompanha é somente um monte de carne osso e músculos, um corpo que consumo e saio quando canso e/ou me sacio?
4- O objeto ofertado não é o que se esperava, o que fazer com o inesperado?
5- Será que estou compondo em meu corpo e ações aquilo que assimilo dos textos estudados e discutidos?
6- Como sair da representação e atuar no tempo espaço no qual me encontro?
7- O que faço se não represento e/ou interpreto? O que faço diante desse ‘vazio’? É a função de atuante uma estratégia para compor no tempo espaço ações pertinentes ao tempo contemporâneo e suas singularidades?
Creio que é isso... Saúde força e fé a nós OBSCÊNICOS.

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