agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

terça-feira, maio 24, 2016

Série de entrevistas sobre o OBSCENA - para a tese do pesquisador Marcelo Rocco

AGRUPAMENTO OBSCENA (respostas CLÓVIS DOMINGOS)

·         QUAL O PERÍODO DE SUA ENTRADA NO AGRUPAMENTO?

 Participo do agrupamento desde 2008 até hoje. São 7 anos ininterruptos de aprendizagens, trocas, criação de projetos e ações artísticas, pesquisas e conversas muito instigantes com diferentes parceiros, e todo esse conjunto de fatores certamente me sensibilizou para as relações entre corpo, arte e espaço público.

·         QUAL (QUAIS) A(S) MOTIVAÇÃO (MOTIVAÇÕES) INICIAL (INICIAIS) QUE LEVOU VOCÊ A PARTICIPAR DO AGRUPAMENTO?

 Primeiramente por ser um espaço de produção de pesquisa, um grupo de estudos e um ajuntamento de artistas e provocadores com os quais eu já dialogava desde a UFOP, onde me graduei no Curso de Artes Cênicas. E tinha também as dimensões da arte contemporânea como a performance e a intervenção urbana.


·         SOBRE O FORMATO DAS REUNIÕES, ACERCA DAS DISCUSSÕES TEXTUAIS, PREPARAÇÃO PARA AS AÇÕES, ETC., COMO VOCÊ CONSIDERA A SUA PARTICIPAÇÃO? PODERIA PONDERAR? OU SEJA, COMO VOCÊ SE VÊ E SE MOVE DENTRO DO AGRUPAMENTO?

Percebo que minha atuação é muito intensa e sempre me vejo propondo ações, textos para leitura e estudo, publicando regularmente em nosso blog. Além de ampliar essas reverberações para outros espaços como escolas, seminários de arte e em minha produção acadêmica (tanto no mestrado como agora no doutorado em andamento na Escola de Belas Artes da UFMG). Interessa-me também muito as pesquisas diferentes da minha, pois aí realizo conexões e sinto que minha formação se solidifica. Tento me mover com flexibilidade e generosidade, pois numa rede colaborativa de criação é sempre perigoso nos tornarmos totalitários. Sempre fico atento a escutar os outros, fortalecer as pesquisas coletivas e alimentar a rede com os meus desejos, indagações, buscas.

·         FALE UM POUCO SOBRE AS LINHAS DE PESQUISA QUE VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES DENTRO DO OBSCENA, CONSIDERANDO TAMBÉM OS EIXOS DE INTERVENÇÃO URBANA, AS LINHAS TEMÁTICAS ACERCA DO FEMINISMO, GÊNERO, ENTRE OUTRAS; FALE LIVREMENTE.

 Hoje penso que nosso grande projeto é a questão do espaço público e a produção de ações artísticas, interventivas e compositivas que dialoguem e tensionem a cidade. Debaixo desse amplo “ guarda-chuva” brotam outras linhas temáticas como: corpo, gênero, espaços privatizados, artivismo, festa, violência, dramaturgias do espaço etc. Também dialogamos sempre com outros coletivos artísticos da cidade e com movimentos sociais. Acho que tudo que se refere à produção de um espaço urbano mais humanizado nos interessa. A cidade somos todos nós!


·         SOBRE OS PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS QUE OBSCENA REALIZA NAS RUAS E EM DEMAIS ESPAÇOS PÚBLICOS, COMO VOCÊ PERCEBE A PARTICIPAÇÃO DOS TRANSEUNTES? COMO O OBSCENA AFETA A CIDADE A PARTIR DE PEQUENAS FISSURAS, AÇÕES EFÊMERAS, ETC.?

Nosso interesse sempre foi ir para a rua numa tentativa de conversações cênico-poéticas com pessoas da cidade, e na maioria das vezes, gente fora do circuito estabelecido da arte. As questões que produzimos nos afetam, tentamos afetar a cidade e somos afetados pelos transeuntes. Há todo tipo de reação: curiosidade, gentileza, espanto, incômodo, agressividade e indiferença. Quando as pessoas se aproximam ou interrompem seu trajeto devido a alguma interferência nossa, acredito que uma ponte se estabelece. Aí perdemos a autoria e nos abrimos ao imprevisto e ao inusitado. Nessa possibilidade de encontro alguma coisa acontece e a ação artística se desdobra, ganha novas camadas, que sozinhos não teríamos como perceber. A comunicação na cidade na maioria das vezes se efetua pela mediação (seja nas propagandas, placas, outdoors, formações) e nós propomos a interação que pode ser sensorial, imagética ou sonora, e com a linguagem sempre no desvio, no sentido da eficiência. Tentamos provocar ruídos na paisagem. Nos chamam de loucos, vagabundos, artistas, manifestantes etc. Eu recebo essas expressões de bom grado. Gosto de perder a autoria para ganhar a relação, a tensão, um momento de encontro. As afetações que provocamos não dá para avaliar, fato é que somos mais provocados do que tudo. Acho que essas provocações urbanas não são disputas de poder pelo espaço, são apenas tentativas temporárias de criar pequenos respiros, trocas mais afetivas, vulnerabilizar espaços às vezes tão áridos e duros. Como amaciar o concreto? Esses dias em minhas andanças pela cidade li uma frase grafada num muro: “ Tédio urbano, sufoco cotidiano”. Então é isso: tentamos oxigenar poeticamente a cidade, criar aparições extraordinárias, colorir ou desautomatizar um pouquinho do cotidiano. Às vezes dá certo, outras vezes somos nós que nos transformamos pelo contato com as ruas.

·         FALE UM POUCO SOBRE A SUA PARTICIPAÇÃO NOS PROJETOS ATUAIS E AS REVERBERAÇÕES NO AGRUPAMENTO.

Atualmente temos muitas frentes de pesquisas e atuações em outros lugares e uma certa dificuldade de articular tudo isso junto ao obscena. Vivemos um momento mais desarticulado da pesquisa, isso inclusive gera crises e até deserções. Há sempre um conflito entre o instituído e o instituinte. A meu ver os projetos atuais apontam para parcerias com outros coletivos numa tentativa de reinvenção. Nessa instabilidade vivemos atualmente e são oito anos de trabalho continuado, talvez até seja natural uma entressafra, fato é que o momento pede novos movimentos, novas formas de funcionar, pesquisar, colaborar. Por outro lado, o agrupamento atualmente é investigado em quatro pesquisas de mestrado (na UFOP e na PUC-SP) e duas pesquisas de doutorado (UFMG). Talvez seja um tempo de reflexão e pausa necessárias, mas certamente o próximo ano (2016) será decisivo para os rumos do trabalho.


Belo horizonte, Dezembro de 2015.

Nenhum comentário: