agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

terça-feira, junho 30, 2015

Desconforto novo para problema antigo

Série de ações do programa performativo: “Desconforto fresco para problema antigo”.


Tudo começou de conversas sobre o momento atual: violência, intolerância, policiamento do pensamento. Desejo urgente de manifestações para questões que nos incomodam. Serão tempos obscuros e perigosos? A banalidade do mal? O que a arte como ação política tem a ver com tudo isso? Pequenas performances contra a barbárie. O que te incomoda? Sair dos nossos cômodos para habitar nossos incômodos.

Programa: Cada obsceno escolhe algum fato/tema/questão atual que o incomoda. Crie uma ação/proposição individual ou coletiva. Traga materiais para a realização da ação.

No encontro seguinte, 18 de Junho fizemos uma roda de desejos e partilhamos nossa táticas artivistas. Foram escolhidas três ações para serem realizadas naquela tarde.

Nina Caetano e Wagner Alves decidiram abordar a questão da violência contra as mulheres e os homossexuais. Tatuar pela força da escrita no corpo da cidade os nomes, imagens e textos sobre vítimas. Eu propus uma ação coletiva sobre a possibilidade da vadiagem, da preguiça, da recusa à ideologia da produtividade ininterrupta.


Escritas da revolta



Uma mulher parou para ler um texto-manifesto de Nina e afirmou: “essa pessoa deve estar muito revoltada”. No chão, nas paredes, nos postes da rua, escritas de revolta e memória. Cruzes com nomes de mulheres assassinadas. Ação como exumação. Retirar momentaneamente do esquecimento pessoas como eu e como nós. Não aceitar passivamente essa anestesia da nossa possibilidade de nos indignarmos. Escrita como grito, desabafo e denúncia. Tentativa de romper com nossa indiferença cotidiana. “A dor da gente não sai no jornal”.

A via crucis do menino Rafael Barbosa, morto porque queria ser estilista. Wagner caminha com a imagem da vítima. Na passarela do metrô os últimos passos até à morte. Grafar uma vida interrompida pelo preconceito e ignorância. Mais uma escrita da revolta. Mais uma cruz. Crucificados. Daí nossa revolta. “Revolvere”: do latim, revolver. Revolver injustiças, não sedimentá-las. Não deixar como estar.

Daí pequenas ações. Ações diretas: “Não esperar. Recusar aqui e agora a colocar em stand by nossa revolta de aqui e de agora, seja por respeito à lei, seja por esperara a Grande Noite, seja por confiança na lenta marcha do progresso” (Morjane Baba, 2003).


A violência da produção excessiva

Amarrados por uma corda. Corpos contidos. Estados de relaxação? Isso é vadiagem. A memória de nossa ancestralidade indígena que se negou a trabalhar e produzir para os colonizadores e foi denominada “cultura da preguiça”. Em 1838 tivemos o documento “Os Corpos dos Trabalhadores” no Pará, cuja lei criminalizava a ociosidade dos nativos e mestiços. Tornou-se pecado capital. A história do Brasil é uma história de violência. Busquei essa imagem e a trouxemos para a rua. Escutei: “quem não está hoje com a corda no pescoço”?

Eu sei quem está: o negro, a mulher, o transexual. Aqui em Pindorama a violência chegou com a colonização e depois se efetivou com a escravidão do povo africano. Continuou, séculos depois, com as ditaduras governistas e hoje se atualiza com a polícia militarizada e uma sociedade de privilégios que clama por vingança ao pedir a redução da maioridade penal e o extermínio dos pobres. Como afirma Maria Rita Kehl: temos uma longa tradição de violência social. Ela nos é tão íntima, que já se tornou naturalizada.

Entre o que foi, o que é e o que poderá ser, resta-me mais do que a utopia de uma grande mudança causada por uma pequena ação artística e de protesto, resta-me a persistência de me manifestar, de não me encolher, de não calar, de não aceitar as coisas como elas estão.








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