Transitar,
movimentar, encontrar e trocar ideias e afetações. Em 2013 nos
percebi numa alta, perigosa e intensa transitividade performática,
participando de eventos artísticos, sociais e políticos. Uma rede
expandida. Cada pesquisador abrindo diálogos e participando de
inúmeros trabalhos, ações, espetáculos, oficinas e conversas.
Difícil listar por onde andamos.
Uma
impressão pessoal de que ficamos dispersos no que se refere à
pesquisa do agrupamento. Soltos demais, talvez avançamos pouco e
retornamos aos materiais já produzidos e os re-experimentamos. Isso
do ponto de vista coletivo. Tudo bem! Mais do que um juízo de valor
(tipo: que bom ou que ruim) acho importante olhar atentamente para o
que nos aconteceu.
Nesse ano
um jeito diferente de estarmos juntos. Uma pesquisa mais
descompromissada e menos sistemática. Seria uma “ressaca” da
alta voltagem produtiva e mais coletiva dos últimos anos? Ou outros
interesses foram mais fortes? Ou tivemos necessidade de respiros mais
individuais? Uma crise importante em nossa forma de funcionamento?
Até que ponto juntos e separados? Ou interligados? O que isso
provoca? Ano de reverberações e desafios. Diferentes velocidades.
Mas nos encontramos para realizar algumas ações coletivas propostas
por eventos que nos interessaram.
Fazer de
um evento uma oportunidade de se experimentar o inédito, se abrir
para o desconhecido, poder optar de que forma e com o quê se deseja
performar. E tivemos boas surpresas, potentes contatos e o
melhor: sobrevivemos. O Obscena continua.
Outros
desafios: muitas reuniões de produção (e que são necessárias) ao
invés de foco na pesquisa teórico-prática. Como resolver tal
impasse? Por outro lado tivemos um tempo mais dilatado para olhar
para nossa produção videográfica e fotográfica, podendo perceber
nuances e fazer redescobertas. Faltou fôlego para cumprir ou colocar
em andamento alguns projetos que nos interessam, como por exemplo, a
publicação do livro. Também exploramos pouco o entorno da Gruta,
espaço que oferece muitas possibilidades de ação.
Parece
que a cidade também performou e se fragmentou: ocupações,
marchas e novos coletivos... Quanta coisa aconteceu e nos atravessou!
Novas
pessoas se aproximaram, outras “pediram” um tempo e algumas
retornaram. Alguns artistas-pesquisadores se juntaram e surgiram trabalhos como " A coisa do si" que considero uma experiência muito forte e que adorei performar junto como espectador-participante.
Minha
pesquisa com Erica (Padilha) e Leandro (Lambe) entrou em seu terceiro
ano. Um arco de sensações e desenvolvimentos até aqui. Estou
avaliando esses percursos e breve quero partilhar isso com o
agrupamento. Assim como o “Sonoridades Obscênicas” voltou à
cena totalmente atualizado. E ainda criei o “Médico de Flores”
(para o evento do centenário de Vinicius de Moraes) o que me trouxe
mais alegria por estar nas ruas e espaços abertos da cidade.
Continuam
me interessando: a relação com o transeunte numa poética de
proximidade e alteridade, as questões do afeto humano e o confronto
com as gestualidades e mobilidades cotidianas institucionalizadas.
Sair um pouco da civilidade rumo à subjetividade e afetividade dos
encontros. A inscrição política do estranhamento no espaço (nisso
conversei muito com o Mateus) também é algo muito potente e
inquietante.
A ação
de colar pequenos cartazes nas ruas (Nina) como uma forma de
intervenção e composição espaciais também nos trouxe a
importância da dimensão plástica sobre as paisagens urbanas. Um
outro jeito de poetizar e obscenizar os espaços e seus discursos.
Exemplo: “as muitas receitas que me perdoem, mas liberdade é
fundamental”(“Remexendo Vinicius”). Uma poética da subversão.
A
performance na rua como um “lugar impreciso” e complicador
das dinâmicas de funcionamento dos espaços. O político como
elemento dissidente numa cidade que se pretende homogênea.
Da
política dos corpos à política da criação (mais do que arte
instituída) podendo alcançar uma política do ACONTECIMENTO.
Acontecem nascimentos. A realização de saqueamentos criativos no
deserto de uma cidade aparentemente organizada e protegida.
Queridos
obscênicos: como foi esse ano para vocês?
Quero
mais.
A cidade
pulsa e nos deseja.
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