agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quarta-feira, novembro 16, 2011

Estudos de Microbiologia Urbana - Ação Coletiva: " Sanitarização da Praça Sete" em BH

No último dia 10 de Novembro, alguns pesquisadores do Obscena realizaram a ação de higienizar a Praça Sete de Setembro em BH, a partir de uma provocação do obscênico Frederico Caiafa, que nos convocou enviando o seguinte e-mail no dia anterior:

" Frente à ação da PM/MG e a Prefeitura, no dia 06 de agosto de 2011,gostaria de propor esta ação de limpeza, pois a preocupação destas duas instituições governamentais são os eventos que nossa cidade

sediará, nos anos de 2014 e 2016, a copa do mundo e as olimpíadas (evento que ocorrerá no Rio, mas que terá a participação de Belo Horizonte), respectivamente, desta forma, suas ações agora estão relacionadas agora com o "lixo social" exposto às ruas.

Pensei nestas relações de poder e a ocupação das ruas de BH que o Obscena propõe, então, achei interessante dividir com vocês, haja vista estas implicações anteriores, que são possíveis de serem compartilhadas com vocês. Queria que esta ação pudesse ser compartida, também, com outras pessoas, àquelas que de vez em quando estão conosco, ou até mesmo, aquelas que curtem a proposta e querem mais clareza nas ações de nossos políticos.

Por isso, em conversa com vocês, acordamos estarmos todos de branco, portando utensílios de limpeza, tais como: vassouras, escovas de dentes, baldes, bacias, esfregões, rodos, flanelas e panos de chão. Pensamos em usarmos, máscaras de limpeza e luvas cirúrgicas por serem mais baratas. Irei olhar valores e produtos de limpeza para o chão. Levarei papel para escrevermos. Encontramos no Centro Cultural e definimos as prioridades depois vamos com os baldes no carrinho de compras. Bem, isso de forma muito tranquila e que na quinta sabermos como será tudo."


Participaram dessa ação: eu, Fred, Matheus, Lissandra, Joyce, Leandro, Davi e Thiago, que fotografou. De branco, como higienistas, invadimos uma parte da Praça Sete, perto dos hippies e lá concentramos nossa ação. Quando chegamos já havia acontecido a "chuveirada" da Prefeitura e assim escolhemos ocupar o lado não higienizado/lavado da Praça. Se fizéssemos na parte já limpa, correríamos o risco de estar dando continuidade à ação oficial, a nossa era alternativa, marginal mesmo...


E o que aconteceu de potente nessa ação?

- A escolha do local: tivemos o que limpar e num lugar de passagem, o que interrompeu o fluxo dos transeuntes e trouxe curiosidade e visibilidade para nossa ação. O ESPAÇO CONCENTRADO, bem delimitado, nós de branco, fazendo a ação e não representando, tensionou os limites entre realidade e teatralidade/performatividade. Muitas pessoas pediram liçença para passar e parabenizaram nosso serviço de limpeza.

- Interrompemos e fomos interrompidos. Agimos e sofremos a ação das ruas. Isso é fantástico!Leandro esfregava o chão (o mesmo espaço) e dificultava a passagem das pessoas, que eram obrigadas a diminuir o passo ou até pararem de vez. Interrupção física e interrupção psíquica também, pois havia algo de inusitado e diferente acontecendo naquele pedaço da praça. Interrupção de uma certa normalidade para a instauração de algo um pouco estranho e diferente.

- Alguns hippies ficaram incomodados com nossa presença, assim como os transeuntes da cidade. Bom tudo isso, problematizar os espaços. Mesmo mais afastados dos hippies, eles achavam que fazíamso parte do Batalhão de Limpeza da prefeitura. Alguns passantes queriam entender o que acontecia e com ironia falávamos que a cidade deveria estar limpa para a COPA e para os estrangeiros e relatávamos nossa indignação com "a tentativa pública de limpar os corpos dos que sujam o belo espaço público", para mim tem que limpar a sujeira do espaço e não as pessoas que ocupam o espaço.

- Os objetos de limpeza eram muito pequenos ( como uma escova de dente que limpava o chão) e se limpava o mesmo local mil vezes, o que gerava um certo absurdo da situação e assim mais pessoas ficavam sem compreender o que se passava ali naquela tarde.

- A ação promoveu a participação e engajamento de alguns moradores da cidade que nos ajudaram na limpeza da praça. Escutamos muitas coisas e há muita gente que não concorda com aquelas pessoas morando na Praça e defendem a retirada e limpeza delas dali. Tivemos conversas com pessoas com ideias muito diferentes. Muitas perguntas ficam em aberto.

- Um hippie me perguntou o objetivo daquilo tudo e eu quis saber o que significava para ele nossa ação e ele respondeu: "Estudos de Microbiologia". Conversamos um pouco e falei, como cidadão, dos meus incômodos com o Poder Público... Mas gostei desses estudos de Microbiologia Urbana.

- A escuta coletiva do espaço, as táticas de composição e atuação com as pessoas, a ação efetiva de limpar, a abertura de Fred que permitiu que cada um achasse um "lugar" dentro da proposta dele, enfim, muitos ganhos com essa proposta que se tornou uma pesquisa coletiva e percebemos que há muito a se experimentar...

Para terminar quero afirmar minha alegria de trabalhar com um bando de artistas que se jogam e se entregam à uma proposta e conseguem juntos efetuar pequenas micro-situações no macro espaço da cidade.

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