agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sexta-feira, abril 01, 2011

"Cartas perdidas" - Escrita humana no corpo urbano

Na última quinta continuamos a pesquisa psicogeográfica proposta por Davi aos integrantes do Obscena.
Desta vez saí junto à Davi e Leandro. Se há uma proposta de se aliar acaso e intenção, num primeiro momento desejava remover coisas e restos de um lugar para o outro... Trabalhar com os vestígios materiais abandonados na cidade era para mim resgatar um pouco a questão do Barrio. Eu queria recolher coisas (intenção), não sabia o quê e nem onde (acaso) e achava que iria criar uma instalação de objetos recolhidos nas ruas e abandoná-la em algum lugar da cidade.

Saímos e aos poucos fomos entrando no fluxo da cidade. De repente começo a buscar papéis pelo chão e margens da Av. Santos Dumont. Percebo que são sempre folhetos de propagandas amassados e abandonados. Até que encontro um cartão de uma loja com um nome de mulher escrito a mão, letra humana. E me desafio a procurar escritas humanas pelo corpo sujo da cidade. E o mais interessante: começo a achar papéis abandonados com listas de compras, números de telefone, desenhos etc. Transforma -se numa obsessão encontrar escrita humana.

Olhando o chão, vejo que uma moça de uma lanchonete me observa estranhamente. Vou até ela e pergunto onde eu poderia achar letra de gente. Ela se assusta, não entende o que pergunto. Diz que não sabe. Depois pergunto a um camelô que diz que devo procurar nos livros, mas eu insisto que busco apenas escritas e rabiscos humanos. Ele me despreza e vira as costas.

Minhas mãos vão ficando imundas e cheiram mal. Encontro uma pasta de plástico transparente e nela começo a guardar os papéis escritos. A rua é sempre generosa e nos oferece o que precisamos. Nisso vem à minha cabeça: "são cartas perdidas". Fico sem entender e continuo garimpando todo tipo de papel que encontro. Abrindo-os, rasgando-os, tentando encontrar algo.

Agora revejo minha coleção, meu inventário de papéis encontrados na Av. Santos Dumont e um pedaço da Paraná. Ainda não sei porque os chamo de cartas. Talvez porque eu adore escrever cartas à mão. Fiquei pensando: que preciosidade em meio a tantas publicidades impressas que sujam o espaço, eu ainda achar "letras-vestígios" de vida humana. E cartas porque posso achar que elas se endereçam a mim. O fato é que se abre uma possibilidade de uma produção plástica e até dramatúrgica.

Quem sabe um dia eu não encontre de fato uma carta perdida na cidade? Ou talvez escreva cartas e as "perca" em variados lugares, tatuando na pele da cidade uma escrita e uma experiência humanas?

3 comentários:

Nina Caetano disse...

que interessante, clóvis, a idéia de escrever cartas e perder pela cidade... vamos experimentar isso?

Matheus Silva disse...

Clóvis, se te interessar leia o conto "Objetos Sólidos", da querida Virginia Woolf... tem um linke interessante com o que vc vivenciou.

Clóvis Domingos disse...

Nina, também acho que pode ser uma experimentação bacana: escrever cartas e abandoná-las pela cidade. Inscrição de letra humana. E podem ser variadas, de amor, raiva, amizade. O importante é serem veículos de experiências humanas. Gente de carne e osso.
Matheus, quero ler o conto da Woolf sim. Quem sabe não inauguramos algo juntos a partir daí?

Aos dois, obrigado pelas provocações e trocas!