agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quarta-feira, maio 03, 2017

Quem tem medo da arte do desconcerto?

Quem tem medo da arte do desconcerto?


“Arte Contemporânea é a experiência do desconcerto: estamos confrontados com a dispersão dos locais de cultura, diversidade de obras apresentadas em seu número sempre crescente, o número crescente de artigos e revistas influenciados por críticos de arte e o público está no mínimo desconcertado” (CAUQUELIN, 2010).


Experiência do desconcerto e do risco. Assim vejo a participação do Obscena na programação do mês de abril do Sesc Palladium. Mais diferente do que afirma Anne Cauquelin, a parceria de uma importante instituição com um agrupamento de artistas independentes se efetuou numa poética da subversão. Explico: quem viveu mais intensamente o desconcerto dessa vez foi a arte. Ela, os artistas e locais de cultura foram questionados pelas pessoas comuns, da rua, e nessa operação de crise e intenso contato, acredito que todos saíram ganhando. 

A produção de cafés-conversas na rua mostrou que quando arte deixa de ser assunto de especialistas e se torna interesse comum, sua função social se expande consideravelmente. O Sesc Palladium se ampliou para a rua e a polifonia e diversidade urbanas ecoaram no prédio da instituição. Nesse jogo entre dentro e fora:  uma política dos Encontros. Mas foi necessário que instituição, artistas e transeuntes se abrissem à experiência do risco e do desconcerto. Dos conflitos, mais do que confrontos. Dos dissensos, mais do que acordos. Não eram aulas públicas sobre arte, eram debates nos quais perguntas eram mais importantes que respostas, posições e certezas eram colocadas em xeque e mais: todos podiam se expressar livremente.

Imagem de Marúzia Moraes


Como manter durante quatro encontros abertos a vibração dessas conversas e a criação de espaços nos quais diferentes saberes pudessem se cruzar? Como não cair no perigo de se “palestrar para os leigos” ou então não se banalizar o fazer artístico? Como de fato tornar pública uma conversa quase sempre restrita aos “iniciados”? Uma espacialidade horizontal e uma mesa de café posta no passeio de fato garantiriam a circulação da palavra e o desconcerto dos conceitos e preconceitos de todos os presentes? Então tudo poderia acontecer. Toda e qualquer pessoa poderia se integrar ao evento. Todos os ruídos da cidade poderiam compor. Não havia porta, grade, parede, segurança. Havia uma reunião de cidadãos interessados e gente que parava, escutava, tomava café, ia embora. HAVIA UM DESEJO DE SE ENCONTRAR E CONVERSAR! Havia um corpo coletivo. Havia uma ética do encontro. 


Quando a arte se aceita porosa aos questionamentos, críticas e dúvidas de todos, acredito que gestos de proximidade são instaurados. Isso certamente revigora o fazer artístico, o coloca mais perto da vida social. Arte desconcertada como bem comum. Artistas já “falam” através de suas obras e mesmo em debates com o público continuam mantenedores do discurso, falando mais do que escutando.

Comecei esse texto com uma citação de uma renomada crítica de arte e o termino com a fala de Gildete, frequentadora assídua de nossos cafés e importante debatedora, uma mulher do povo:

“Bem que eu desconfiava que saberia conversar sobre arte”.

Então fica a questão: “quem tem medo da arte contemporânea” ou: “que arte tem medo do desconcerto que pode ser criado pelo cidadão comum”?

2 comentários:

Matheus Silva disse...

Como atingir a pele da rua? Uma rua embrionária, onde corpos dão passagem a novas composições. Conexões de gente. Há diferença entre pessoa e indivíduo? Um café que sim dispositivo para refletir junto, desprender-se e lançar-se. Por mais cafés e bate-papos microfonados na rua grávida de vozes e vontates. Que seja arte, e mil outros assuntos. Que possamos escutar mais. Que possamos ouvir mais. Que possamos falar sinceramente. Que escutem o que se falam nas ruas. Que se façam ouvir outras vozes. Que duvidemos mais de nós mesmos. Que duvidemos da outra voz. Que possamos compôr com as vozes outras. Que não nos bloqueemos diante a voz diferente do outro. Que façam fugir as vozes presas e acorrentadas. Que as vozes desembestem e vão de encontro com o que vem de dentro-fora-entre! Que possamos ouvir nossas vozes. Que possamos não ouvir. Que possamos conversar.

Clóvis Domingos disse...

Sim, Matheus, que possamos escutar mais!!! Obrigado pelo comentário. Sigamos!!!!