Preparativos-
Aquecimentos- Agenciamentos
O desejo de encontrar e
trocar experiências com o coletivo artístico toda deseo. Surge a possibilidade de um festar na e pela cidade.
Primeiras conversas: circular com um corpofesta
e instaurar pequenas e temporárias festividades em locais de passagem e de
aglomeração. Nomadismo noturno. Derivações espaciais. Ambiências festivas.
Estados de festa. Acontecimentos e acometimentos alegres. Diversidades e encontros.
Festa como ação gratuita que surge pela força dos acasos. Festa que pede
participação. Segunda conversa: Corpos festeiros. Baderna, algazarra,
comemoração. Carnavalizar. Criar situações. Risco, arriscar presenças. Desejos.
Festa no ônibus? Mapas? Festa marcada ou invasão de corpos festivos? Uma TAZ (Hakim Bey)? Uma fechação? Os
situacionistas estão chegando...
Minha
cartografia afetiva- atletiva:
Uma escrita infestada
começa aqui. Jogo perfográfico. Mapa
sensitivo: o que ficou “dançando” em meu corpo. Memórias. Presenças.
ConversAÇÕES.
Primeira
parada: Bar da Cledir. “Tá
rolando bafo puro!” Cerveja, alegria, paquera, corpos carnavalescos e muita
excitação. Interação com a rua. O passeio do bar “infestado”. Chega Bárbara
(uma moradora de rua que é trans) e a partir dos figurinos das personas começa
a identificar as novelas da Rede Globo. Plim, plim! A gente causa... Point da concentração, esquentando os
tamborins, tamancos, tamanhos, talentos. E mais cerveja. Um brinde! Levantem os
copos. Levante de corpos. Um brinde? Não blinde nossos corpos. Vai ou não vai?
Qual bus a gente entra? Qual bonde a
gente forma? Vamos dar uma pinta, um rolé nos bares do Maletta?
Sim.
Lá vem a gaiola das
loucas, dos loucos, dos alterados, vagabundos. Vagabundear como política dos
afetos. Vaga, vagamos... vaga bunda, vago mundo, vaga noite. Vaga. Tem vaga,
tem espaço, pode chegar.... vaga livre. Vagalumes, mariposas, risos, bebida,
luminosidades... Pisca, pisca, pesca atenções, pesca movimento. Pisca vida!
Pisca, pisca. Pica, picada na noite que só começa!
Segunda
parada: Bar do Olympio no Maletta.
“Luz na passarela, chegaram elas”. Somos foco, festa,
fetiche, fichas, bichas, fechação... Uma
boate se inaugura. Festa dançante, noite generosa, música boa. Flashes,
flechas, gentes que chegam e dançam coletivamente. Coreografia toda deseo,
corpos inflamados, show gratuito, o público vibra... Festa, foco, somos
fuleiros. Performance é fuleiragem
(Medeiros, Bia). Contágio, peste, alegria como revolução e revolta.
Re-voltam-se os corpos montados, pintados, pintudos, tesudos, carne viva!
Fogueira, noite feiticeira. Os seguranças não sabem se nos contém ou se nos
convém. VEM! Vem, vem, vem... Paisagem festiva. Chega Davi e seu violão.
- Vamos circular, gente?
Tem mais lugares prá gente festejar. Despedida. Despe a dita. Despe esse calor,
esse furor, esse desejo de festejar e abraçar a noite.
Terceira
parada: Esquina da Rua da Bahia. “Serenata da piroca”. Foi
na encruzilhada com a Guajajaras. Momento único. Carrinho de pipoca e canção dedicada
a duas trabalhadoras e irmãs: Maria e Isabel. Pipoca, piroca, paçoca, oca. Casa
do encontro. E elas se jogam, dançam com a gente, frisson, delícia, um
pouquinho de loucura no trabalho, um pouquinho de descanso na loucura. Piroca.
Pipoca. Salve Obaluaê! Cura a cidade dessa doença de tristeza, medo e silêncio.
Senhor da Saúde dá-nos rebeldia, anarquia, alegria! Encruza, entrecruzam corpos
nômades, chegam pessoas, mais festa que se esvai para a faixa de pedestre que
se transforma em faixa musical, corporal, libidinal. Dança, gira, roda,
ritualiza corpos e carnes. E atravessamos atravessados através do sinal
vermelho de perigo, pestigo, peste, desejo... a festa está faminta, quer
devorar mais gente. Comidos caminhamos para comer mais espíritos vagabundeantes.
Quarta
parada: Café e bar. “Baile da Geni”. Espírito qual é o teu
nome? Legião, re-ligião do amor e da alegria. Rodrigo Ferrari pega o violão e
lá vem Chico Buarque prá gente reverenciar a Geni e jogar pedra na calmaria da
vida. Um baile se forma: dança, rodopio, arrepio, assovio, teatro, te mato,
te-ato, te cato, pura epifania... Somos corpo coletivo. Abocanhamos o espaço,
mordidas, lambidas, a noite geme agradecida. Fogo, pavio curto, pólvora,
incêndios poéticos. Alguma coisa acontece, alguma coisa entontece, festece,
tece fios finos fibras, findos estados de prazer. VAMOS SUBIR GENTE? Força no “edí” (cú) e canta prá subir!
Quinta
parada: Café Cultura. “Carnaval de Rua”. Já estamos excessivos,
excessórios, exceções na ordem pública. Funk, fode, senta, e quem aguenta? De
repente um novo bloco de corpos festivos vem chegando e eis um encontro mágico:
beco das misericórdias. Corpos inflamados, quem sobe, quem desce, abraços,
beijos, trocas, gritos, bando de indígenas devoradores, o tempo cotidiano coitado
suspenso.... euforia, eu-folia, manifesta-ação, quem combinou esse momento? Esse
corredor? Corre dor, corre normatividade, corre tempo cronológico...
abençoados, abensonhados, protegidos pelo deus acaso, uma multidão alegre pára
o trânsito, bloqueia qualquer passagem prá pedir passagem pra vida circular sem
vergonha e comemorar sua trepada com o inexplicável. Instantes que ultrapassam
meu existir. Bloco se desfaz e se refaz, o tempo jaz, a festa leva e traz.
Sexta
parada: Igreja de Lourdes. “Performance
bandida: ajoelhados e sem pecados”. O trânsito engarrafado,
lento e os corpos soltos livres e velozes. Vorazes. Engarrafados com conhaque,
agarrados ao espaço aberto e diante do sagrado ajoelhamos para ironizar a
instituição do Pecado. Quanto custa o teu pecado? Pecado não existe.... ou se
existe é não viver teu desejo, tua obscenidade, teu bailado e ficar ajoelhado
esperando esse Deus que na verdade já dança nas ruas, nos corpos anônimos, nos
sinais abertos, não fechados.... O tráfego de carros tão devagar, e nós na
velocidade dos beijos, carícias, comemorando sei lá o quê, fazendo festa,
fresta, fricote, frevo com essa noite que não cansa de gozar e a gente faz amor
prá mais amar... O tráfego de carros tão devagar e nele o tráfico de corpos
escravos: contidos, contenções, sentados, cansados, com tensões, “vem prá cá,
tesões!”- convida a dama da noite. Rumo a praça da Liberdade? Mas a cada parada
uma praça da liberdade e da libertinagem a gente cria!
A
gente quer andar mais!
Ambulantes, ambulância prá socorrer o mal
estar de uma cidade estratificada, privatizada, mas “Paradise is now”, baby! E a festa ambulante segue e eu
sigo outra festa, outras paragens e volto prá casa festejando essa saúde que
não cessa, essa fome que não passa, esse cansaço que não cansa, essa alegria
que não dorme, esse descontrole que protege, essa faísca-festa de vida que me
engole, co-move, movência, mamulência, molecagem, festa brasileira,
tupi-guarani, conga, puta, mestiça, festa madame, festa-enxame.
Que o céu da cidade nos
proteja, festa benfazeja!
(Imagens de Lissandra Guimarães).
3 comentários:
Amo muito tudo isso! rs
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