Sobre a
ação "Pequenas Estações (a gente sempre foi poético)" na
Mostra/Exposição OUTRA PRESENÇA no último domingo no MAP:
Cores
diversas. Corpos em marcha. Delicada invasão. Baldes, sombrinhas,
livros, tecidos, formas e desejos. Encontros. Paisagens nômades. A
gente sempre fez poesia corporal na cidade.
Primeira
estação: No jardim do museu. Área externa.
Chuva.
Uma caminhada lenta. Corpos molhados. Jogo entre os performers.
Andar, parar, compor, esperar e sentir. Instáveis fotografias,
corpografias e identidades. Tempo dilatado. Sentar, estacionar
e contemplar o jardim molhado. Aproximar e distanciar. Estar na
presença. Nina, vestida de vermelho, pára e lentamente come uma
maçã vermelha. Um quadro vermelho se instaura sobre minha
percepção. Performance mínima. Não há algo a se produzir.
ESTAR É ACONTECER.
As cores
performam, dialogam, encantam, juntam, destacam e capturam a
atenção das pessoas. Corpos como linhas moventes. Artes visuais.
Sem balde comigo, escolho um conte de trânsito para minha ação.
Uma placa de sinalização urbana. Meu corpo sinaliza entradas e
saídas. Na porta do prédio do museu me instalo. Eu e a placa. Pode
entrar? Pode passar?Pode ocupar?
Em minha
memória da pele, volta a cidade em obras, o espaço privatizado e a
mobilidade reduzida. Proibido transitar. Brinco com isso. Meu
museu-cidade? Uma estranha presença.
Segunda
estação: Dentro do prédio. Área interna.
Construção
de um lugar. Ouço o som de um enorme plástico azul que percorre o
chão. Artes plásticas e sonoras. Escuto vozes: as leituras de
textos e poemas para os visitantes do museu. Crio um lugar ali.
Retiro os sapatos. Sou branco no cinza. Um tapete retangular. Deito
em meu travesseiro também branco molhado. Instante de repouso. Pode
deitar?
Tudo me
afeta: o olhar das pessoas, os ruídos de vozes ao longe, as cores
espalhadas pelo saguão. Descanso. Não há nada a produzir. ESTAR É
ACONTECER. O cone ao lado, na frente, atrás, no rosto, na barriga,
infinitas possibilidades materiais. Olho em volta: cabanas-casas
coloridas. Um acampamento cigano. Não vejo rostos, mas cores. Não
vejo performers, mas presenças. Não vejo singularidades, mas
multidão. Não vejo presenças, mas ausências. Isso deve ser
político! Isso deve ser poético! Isso deve ser estÉTICO!
Calma.
Muita calma... Olho o teto. Espaço cercado de vidro. Frederico, de
preto, se aproxima. O branco e o preto e no meio uma linha divisória.
O mundo se divide em cores? Cores definem uma presença no mundo?
Algo nos separa. Jogo, escuta, aceitar e negar essa OUTRA presença?
Uma diferença aparece aí. Coloco o cone de trânsito entre nós
dois: um limite, um muro, uma cerca. A cidade volta a respirar em
mim. O que nos separa?
Mas
branco e preto adentram pela avenida de um contorno e se misturam. O
outro pode ser outro! Perco o rosto por um tecido preto. Sou multidão
feito os Black-Blocs. Uma máscara. Não para representar
nada, mas para ser clandestino. Sou MUITOS! SOU TODOS!SOU NINGUÉM!
Busco um
jovem vestido de verde que me olha atentamente. A manga branca de
minha camisa se alonga. PRESENÇA EXPANDIDA. Ele me segura, eu
estico, ele me equilibra, acho que vou rasgar e cair... Conexão.
Tensão de corpos. A vida acontecendo na tensão com a tua presença!
Algo se alarga, tão distante e tão perto! Até que entro na camisa
dele e branco e verde se encontram.
Há uma
suspensão! Há uma suspensão: de tempo, de individualidades, de
lugares, de significados. Há uma suspeita ação com essas
presenças!
Imagem de Luiza Palhares
Esgotado,
volto ao chão. Coreografia de um corpo cansado. Das intensidades
para as calmas. Testemunho as danças-afeto de outros performers
e suas
deformações. Eu me movimento com os olhos. A gente sempre foi
poético!
Terceira
estação: Lagoa da Pampulha.
Um
cortejo colorido e lento até às margens da lagoa. Às margens do
registro da câmera e da curiosidade das pessoas. No centro da
presença. Meditação. Respiração. Performação
sem público e com as
águas. Sou líquido. Muitas presenças a me de-compor naquela tarde.
Agora chovem sensações e vazios. Nada a reter.
Na impessoalidade
Na clandestinidade
Na (in)visibilidade
Na superficialidade
Na outridade
Na liminaridade
A gente ali
foi presente.
2 comentários:
Percepção pura
Neste texto pleno de amor
Encontro entre as cores o tempo e o espaço
Será mais um sonho que tive ou mais um poema que faço?
bacana demais seu texto poético! muito mesmo! beijo. Vivi.
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