O evento A Ocupação com a criação
de um corredor cultural no Viaduto de Santa Tereza, no último
domingo, dia 07 de julho, revelou os belos horizontes de uma cidade que todos
nós reivindicamos. Manifestação popular e artística, a cidade foi
de fato praticada e o melhor: ocupada. Reunião de desejos,
encontros, conversas, comidas, músicas, brincadeiras e
solidariedades - tudo se congregou de forma coletiva, lúdica e
alegre. Um mar de gente. O corpo da cidade em festa.
Um carnaval livre e instituído fora
dos calendários oficiais como uma taz, zona autônoma temporária,
muitas festas aconteceram simultaneamente, uma legião de
micro-eventos. A possibilidade de mistura, diversidade e mobilidade
de ideias, corpos e expressões. Espaço heterogêneo. Heterotopias
com o surgimento e uso de lugares reinventados: pequenas praças,
boates na rua, varais de poesia, galerias abertas, hortas
comunitárias, bazares coloridos, salas de estar, cozinhas fartas,
cinemas gratuitos, playgrounds etc.
E nós do Obscena participamos com
duas ações: “Cadeiras: leituras para um levante” e “Irmãos
Lambe-Lambe: registros fotográficos de um levante”. Delícia de se
corpofestejar a cidade, espaço que nós habitantes às vezes mais
evitamos do que frequentamos. Nós do Obscena somos fiéis amantes
das ruas e não podíamos faltar a essa festa.
Encenar/ensinar CIDADANIA: corpos
em manifesto
Em “Irmãos Lambe-Lambe” eu e
Leandro Acácio sempre trazemos uma questão para ser debatida com os
transeuntes na cidade. Dessa vez nossa pergunta foi: “qual é a tua
manifestação para esta Ocupação?” As pessoas então escreviam
seu manifesto pessoal e depois eram fotografadas por nós. A
participação exigia maior comprometimento das pessoas.
Os curiosos se aproximavam:
- O que é isso?
- Essa cadeira é um ESPAÇO PÚBLICO
DESOCUPADO. Quer ocupar?
- Mas como?
- Basta você se manifestar por
escrito e depois te fotografamos. E depois enviamos a imagem revelada
pelos correios.
E juntavam-se muitas pessoas:
jovens, crianças, famílias etc. Tínhamos assim dois tempos de
provocação e criação para os cidadãos: primeiro, o produzir o
cartaz e depois o se sentar na cadeira para ser registrado. E também
surgiram dois espaços que se retroalimentavam: “a praça da
escrita” – com várias pessoas sentadas no chão pensando e
escrevendo seus poemas amorosos e revoltosos; e à frente: “o ponto
de encontro” – espaço da cadeira para a fotografia. Espaços
ocupados.
Imagens de Whesney Siqueira
Sentimos pulsar nas pessoas que
participavam uma alegria de estarem ali e também um sentimento de
pertencimento ao levante popular nesse momento histórico de nosso
país e cidade. Juntos encenávamos, ensinávamos e aprendíamos, o
esquecido exercício da cidadania. Para nós, os Lambes, era a
oportunidade dessa nossa experimentação artística, dialogar com as
manifestações, protestos e marchas urbanas. Arte e contexto.
ContextARTE. Contestar.
Foram duas horas intensas de escuta,
escrita, expressa e manifesta. Ao final de nossa ação tínhamos
colecionado um “muro de manifestações”. Chega de lamentações!
Em breve vamos sair pela cidade e colar os cartazes produzidos em
postes, muros e lixeiras, como uma exposição e composição
públicas desse trabalho. Procuro-me e encontro-te tatuado na cidade.
Vejo as fotografias e os manifestos
como documentos de mais uma assembleia acontecida naquela tarde
debaixo do Viaduto Santa.
O evento foi mais que um corredor:
foi uma arena de lazer e prazer coletivos, sem centro e margem, sem
alto e baixo, sem grande e pequeno, sem protagonista e coadjuvante.
Aglomeração. Rizoma. Mutirão. Multidão. Multi-pão. Alimento para
sensibilidades. Sem palco e plateia, fomos todos atuantes. Fizemos
amor com BH e melhor não há!
A OCUPAÇÃO:
celebração de um belo HORIZONTE: o povo na rua com passe livre para
vivenciar a cidade.
3 comentários:
maravilhoso é o teu relato, clóvis! amo sua maneira poética de tratar das questões estéticas e políticas que envolvem o trabalho do obscena! e parabéns pela ação que fizeram nesse dia tão especial: é lindo ver como as questões que permeiam a cidade, contaminam o que fazemos. beijo
Ei, Clóvis querido,
que bom ler seu texto e relembrar dos momentos tão intensos tivemos no domingo durante a ação do lambe. É maravilho estar ao seu labo.
abraçasso
Queridos companheiros Nina e Leandro, obrigado pela leitura e comentário. Bom trocar com vocês e estarmos juntos nessa deliciosa e instigante pesquisa sobre corpo, arte e cidade! O OBSCENA é um espaço muito importante para mim, com fios se conectando ao meu cotidiano como cidadão, aprendiz de artista e pessoa. Que venham novas ocupações!!!
Muito afeto sempre!!!
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