Voltando do período de férias de escrever aqui, depois de um ano muito produtivo, o de 2012, onde presenciei e vivi pesquisas colocadas à prova, no concreto, no seu tempo desejante, cujas velocidades podem alterar-se, modificar, ganhar o corpo que quiser, afirmo: o que une corpos é um desejo producente de criar um acontecimento. O fazer é alimento, seiva, sem denominadores comum, mergulhados na pura diferença. Isso sim pode fazer unir, na máxima distância, um agrupamento. Não acredito que haja algo a ser descoberto, e sim o contrário, algo a ser inventado. Mais importante do que saber para onde irão as próximas ações, quero vivê-las.
Penso que o fazer é um pensar no ato, produzindo novas subjetivações. Reflexão e abstrações muitas vezes enfraquecem um corpo, que precisa se colocar em ação, ao encontro com as multiplicidades infinitas da cidade. A correria, o excesso, a lentidão são componentes mágicos que acredito fazer correr pesquisas em seu leito, profundo e superficial, sem projeções sobre o que se faz. Com Deleuze penso na natureza como campo de forças sem significação alguma, com velocidades infinitas, arrastando blocos de sensações e perceptos. Não há tempo certo, não há mal estar em coisa alguma, há tolices e superstições que são o avesso de um instante movediço, o instante criador e alegre.
O tempo, desde sempre e para sempre, pode apenas territorializar os corpos num não-fazer. As pesquisas podem correr por linhas duras, flexíveis, invisíveis, mutáveis. E a ciência intuitiva na produção de vida? E a armadilha pode ser tentar colocar no plano racional algo que se dá em puro devir, faz e acontece sem necessitar de referência alguma, se dá no encontro imprevisível de corpos e sensações.
Não é preciso fugir de tempo algum, é preciso compor com todos os tempos. Há infinitos tempos cruzando o agora, e quando a alegria acontece, percebe-se o aumento da potência: a gente faz e acontece, eu faço e aconteço, a cidade faz e acontece. O tempo não é senhor, o tempo a gente inventa, para se distrair! Não é preciso fugir de nada, e sim dialogar com demônios e santos. Eu não pretendo nada, não tenho intenções de chegar a ponto algum, quero passear com leveza para o que se cria seja real, e não “imaginativo.”
"Espaço Disponível, anuncie aqui". Intervenção performática do
Obscena Agrupamento, realizada em Ouro Preto durante o simpósio
Corpolítico. Foto: Frederico Caiafa
Espaço disponível, anuncie aqui
percorrer as ruas atemporais de Ouro Preto,
bando de mulheres,
corpos minoritários
escorrem e compõem
instaurando-se,
fundindo-se.
corpos cuja natureza
quer romper e resistir
em sobrevôos indeterminados.
nômade obscena,
gazela gostosa, uiii!!
Corpo que se refaz em ato efêmero
descontínuo, ininterrupto.
Glamour afetado, mas não banalizado.
Transitar por n sexos é estar desencardido de quaquer território.
2 comentários:
Texto interessante para tempos de crise e reavaliações!Mas tudo é possibilidade para novos arranjos e desejos.
Matheus querido! Você me alcança. Vamos juntos produzindo incompossíveis :-*
Postar um comentário