Atentado ao pudor. Ludicidade inapropriada para todas as idades. Conteúdos existenciais questionáveis. Estética chula. Estética do lixo. Somos ilegais, imorais ou engordamos as fileiras?
Somos agradáveis? Devemos sê-lo? Devemos ter uma estética organizada, limpa, harmônica?
Até que ponto cabemos em um aparelho teatral público? Na vitrine, só uma ludicidade apropriada para todas as idades e públicos. Para a velhinha e para a criança. Criança não pode ler: vaca cadela cachorra filé gostosa. Não pode ler: limpar. Lavar. Chupar. Transar. Mesmo sem vontade. Não pode ver pano preto, vermelho e comida em cima. Criança não pode ver macumba.
Para bom entendedor, meia palavra basta. Não somos lúdicos o bastante para espaços controlados, administrados, com satisfações a dar. Não somos apolíneos.
Teremos bons ou maus entendedores? Quantas palavras? Quais palavras? Onde? Como?
Não vamos satisfazer.
Não estamos satisfeitos.
Pode?
Não faremos essa pergunta. Somos invasores. Invadiremos a cidade. Os bairros. Metrôs. Ruas. Invadiremos com corpos, panos e restos. Com o lixo que já invade a cidade. Com os esquecidos.
É preciso conquistar a rua. E o risco. A rua não irá nos proteger. Estaremos expostos. Afinal, ela não é uma vitrine.
É necessário traçar estratégias, buscar outros caminhos/espaços. Adensar materiais. Individualizar as pesquisas. Onde vou caber? Interromper?
Agora a pausa. O descanso. Juntar forças. Organizar cabeças e materiais. Desejos e procedimentos. Escrever. Escrever. Pensar. Articular. Lançar um olhar crítico. Objetivar. Pesquisar. Fontes. Corpos. Narrativas. Fazer seleções. Escolhas. O que me pertence?
E não estaremos sob a jurisdição de ninguém. Só acataremos nossas próprias regras. O resto, queremos descobrir. Nossas formas. Nossas imagens. Nossas palavras e objetos.
Nina Caetano
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