...
Estou coberta por carne quente.
Aperto o pijama e deito-me por baixo deste fino lençol, flutuando numa luz pálida.
O começo de um cântico. rodas, cães, homens a gritar, sinos de igreja. o começo de um um cântico.
- No momento em que dobro o vestido, ponho de parte o desejo.
Contudo, sei que vou esticar os pés para que possam tocar na barra da cama; quando a tocar, ficarei mais segura por sentir qualquer coisa de sólido.
Agora, já não me posso afundar, agora, já não posso cair através do lençol. Agora, estendo o corpo neste frágil colchão e fico suspensa. Estou por cima da terra. Já não estou de pé, já não me podem derrubar nem estragar.
É melhor sair destas águas. Mas elas amontoam-se à minha volta, arrastam-se por entre os seus grandes ombros; fazem-me virar; fazem-me tombar; fazem-me estender por entre estas luzes esguias, estas ondas enormes, estes caminhos sem fim.
(apropriando-me de as ondas, de virginia woolf: cortes, colagens, transformações)
3 comentários:
Que lindo, Ninon! As ondas te afogam em pura poesia e imagem.
Delírios e delícias.
Mas que teatro virá? águas levarão as certezas e formas...
Lindo, lindo! Vários lampejos, várias camadas surgem! Um teatro impossível!
Davi
Lindo mesmo... fico embriagado, mareado... Um teatro do indizível?
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