agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

quinta-feira, novembro 25, 2010

mulheres de programa

hoje, 25 de novembro, fiz mais uma programa.



como sempre, não o fiz sozinha... que graça teria?
melhor seria dizer: nós o realizamos. 11 mulheres e um bendito fruto.
tornar real um programa é organizar um plano de risco e colocá-lo em ação. para desprogramar corpo e meio...

"mulheres painel em deriva pelo hipercentro de belo horizonte oferecem seus corpos para serem lidos. nestes, notícias de jornal se misturam a imagens de mulheres e a escritas improvisadas".

dando prosseguimento à investigação do feminino que a gente vem realizando (lica e eu), tínhamos proposto para as mulheres da marcha mundial das mulheres uma ação coletiva para o dia internacional da não violência contra a mulher. seria uma ótima ocasião para recolher mais imagens junto com anna e taynara, as moças da m.m.m. com quem estamos realizando uma parceria de trabalho para desenvolvimento de material audiovisual.
elas, para seu trabalho final na oi kabum. nós, para desenvolvimento de nossas questões.

a idéia era criar uma multiplicação, uma seriação de figuras femininas que, marcada por certas semelhanças - as mulheres teriam em comum os corpos/roupas de jornal - e circunscrita em uma determinada área, tenderia a provocar interrupções no fluxo cotidiano da cidade, um possível estranhamento.

com a necessidade das mulheres da marcha se concentrarem nas manifestações mais diretas e sem tempo hábil para prepará-las para a ação que pensávamos, acabamos por decidir convocar outras performers de belo horizonte que imaginávamos comungar em termos não só de linguagem, mas também de interesse temático ou de atitude política.
email, facebook e, em breve tempo, conseguimos um bom número de mulheres interessadas em realizar uma ação conosco.

como disse, fomos onze ao total. dessas, seis saíram, efetivamente, de mulheres painel: lica, letícia castilho, sílvia andrade, marcelle louzada, viviane (preciso saber seu sobrenome) e patrícia campos, pesquisadora que integra a rede colaborativa do obscena.
todas as outras (nina, marta, juliana, anna e taynara) e o bendito fruto, fernando, ficamos no necessário apoio: dentro de sala e no acompanhamento/registro na rua. afinal, temos que estar preparadas para tudo (também seria interessante saber o sobrenome de todas/o para os créditos nas fotos/imagens).

em evidente alusão a um tempo de guerrilhas, acabei por nomear a ação de ação performática 25 de novembro. letícia veio a caráter, vestida pra guerra. cada mulher painel construiu sua singularidade... silvia com seus sapatos de jornal e guarda-chuva, patrícia de "chanel", marcelle com sua cachorra e viviane de rainha... lica com sua mitra, aráutica...


nos corpos números de violência, bundas plastificadas e sorrisos cor de rosa. olhos roxos e palavras editadas. desprogramando. desprogramando. desprogramando.

CONVITE DE DEFESA DE MESTRADO DE CLÓVIS DOMINGOS

O Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes da UFMG

Tem a honra de convidar para defesa de Dissertação de Mestrado

TÍTULO: “A CENA INVERTIDA E A CENA EXPANDIDA: projetos de aprendizagem e formação colaborativas para o trabalho do Ator

CANDIDATO: Clóvis Domingos dos Santos

ORIENTADOR: Prof. Dr. Antônio Barreto Hildebrando

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Denise Araújo Pedron – titular- PUC/MG

Prof. Dr. Fernando Antonio Mencarelli– titular–EBA/UFMG

Prof. Dr. Luiz Otavio Carvalho Gonçalves de Souza – suplente - EBA/UFMG

Prof. Dr. Maurílio Andrade Rocha – suplente - EBA/UFMG

LOCAL: Escola de Belas Artes

Av. Antonio Carlos, 6627

Campus Pampulha - Tel (31) 3409-5260

http:// www.eba.ufmg.br/pos

Dia 26 de novembro de 2010, (sexta-feira) às 10:00 horas no espaço vermelho do prédio de Teatro da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais

terça-feira, novembro 23, 2010

desnaturalizando as coisas

ontem iniciamos nossa residência artística no centro cultural da umfg.
e foi em alto estilo.
na parte da tarde, lisssandra e eu nos encontramos com o grupo de mulheres que irá, junto conosco, realizar uma ação performática feminista no dia 25 de novembro. conseguimos um bom grupo, de mulheres interessantes e interessadas: da marcha mundial das mulheres, mas também performers de belo horizonte.
foi uma boa conversa, com a definição do programa da ação.
quinta, performaremos o programa que pretende, com uma multiplicação de mulheres painel, causar uma interrupção no fluxo do cotidiano. provocar estranhamentos...

à noite, luciano dias veio falar conosco sobre foucault, corpo e poder. foi muito, muito profícua a discussão e as questões que se apresentaram nessa primeira conversa. a desnaturalização das coisas muito me interessou. colocar em questão, suspeitar do que parece natural...

é natural separar mulheres de homens, meninos de meninas, na educação física, por exemplo? homens jogam futebol, mulheres fazem ginástica?
é natural o casamento e os filhos, destino de toda mulher?
é natural que cuidemos dos filhos?
é natural que sejamos valorizadas (ou desvalorizadas) por nossas posturas sexuais?
é natural que o ciúme controle as relações e que estas se configurem como relações de posse?

preciso reler foucault... principalmente a história da sexualidade. isso é urgente.

sexta-feira, novembro 19, 2010

Uma experiência Obscen[ic]a


(por paulo maffei)


Proposta: Passear pelo centro da cidade (Belo Horizonte – MG), utilizando elementos do sexo oposto. Dia 25 de Outubro de 2010, horário: 19h. Sou convidado a participar da experiência. A proposta que já havia sido definida anteriormente pelo agrupamento, previa que as pessoas se dividiriam em duplas, onde uma estaria caracterizada com elementos do sexo oposto e a outra a seguiria pelo passeio a ser realizado, através de mapas desenvolvidos pelos propositores da situação e que foram trocados antes do inicio da experiência. Aquele que seguiria o propositor investigaria as reações e acontecimentos oriundos deste passeio, por parte dos passantes da cidade.

Sigo o Mateus. Ele está usando calça social preta, camiseta regata preta, barba por fazer, pêlos no peito (signos atribuído ao gênero masculino), bota plataforma, bolsa de mão de vinil branca, batom (signos atribuídos ao gênero feminino).

Iniciamos o passeio. Percebo movimentos que se contrapõem, pois o traje masculino de Mateus mesclado com os signos femininos, causam um choque, muito maior do que se ele estivesse completamente travestido, porém ao mesmo tempo que sua presença causa um distanciamento daquilo previsto como normal, este distanciamento se refere apenas a mais um elemento desviante no caos da cidade.

Se a linha da cidade esta repleta de informações destoantes, mais uma que destoe a lógica do gênero passa quase que imperceptível... a não ser por três passos depois do propositor passar e os olhos se voltarem para trás, na busca retardada de compreender mais um signo [torto] da cidade.

Outros passantes mais atentos, ao se depararem com um Homem e sua bolsa de mão branca que reluz as luzes da cidade, correspondem com risos, interrupções de conversas, sinal da cruz por parte de um fiel que carregava uma bíblia nas mãos, sustos...

Entramos no Palácio das Artes. Espaço constituído por um público “seleto” [gente da Arte]. Quase não se percebe reações pelas pessoas que se encontram no espaço... no máximo, ao meu ver, um olhar quase que analítico na busca de compreender se aquilo é uma “proposta” ou apenas aquilo o que é.

Seguimos caminho em direção a Praça da Estação... olhares, comentários e etc. ao passarmos enfrente uma faculdade alguns estudantes (Homens) que estavam na calçada começam a mirar aquela presença inusitada... Mateus se distância um pouco destes e para encostando na parede. Os estudantes, como se sentissem no direito, começam fazer piadas para o Mateus: “Oh meu bem”, “Vem cá linda” entre outros. Mateus continua seu trajeto. Sempre nos deparamos com olhares incompreensivos por parte dos passantes, investidos de pré-conceitos depositados por nossa sociedade (não me excluo desta formatação) ao longo de nossa formação: “Isto é de menina”; “isto é de menino”; “menina se porta assim”; “menino se porta assado”. Assim nos formamos enquanto seres humanos, limitados por nossos órgãos sexuais... “Como construir para si um corpo sem Órgãos?”

Vamos para nosso último destino a Praça da Liberdade. Na busca da liberdade, nos deparamos com pessoas que correm ao redor da praça, correm atrás do corpo perfeito. No caminho contrário segue Mateus e sua bolsa branca, sua plataforma e seu batom no lábio. A Praça da Liberdade não se demonstrou liberta. Ao correrem as pessoas passavam rápidas de mais pelo Mateus, e assim tinham que virar o rosto para melhor entender aquele Homem/Mulher que acabara de passar...

Encerramos o percurso.

Impressionante como uma bolsa de mão branca no corpo de um homem – que outrora estando sobre a mesa não causava grandes afetações – se torna tão poderosa simplesmente pelo contraste bolsa de mulher/corpo de homem... Enfim são coisas do gênero...

Paulo Mafei

quarta-feira, novembro 17, 2010

performances no centro de brasília

obscênicos!
muito legal o evento realizado pelos corpo informáticos, de brasília... tudo a ver com a pesquisa que estamos fazendo!
lá, começa no dia 24 de novembro

http://www.performancecorpopolitica.net/

domingo, novembro 07, 2010

relato de experiência

por Patrícia Campos (25 de outubro)

Encontramo-nos em frente a igreja São José e trocamos os mapas como combinado. Um mapa bem traçado dos lugares que teria que percorrer me foi entregue: sete roteiros escritos em um papel rosa.

Vim vestida de homem do shopping cidade.

Cheguei ao shopping com 40 minutos de antecedência do encontro marcado. Sentei e comi um lanche e pensava nas possibilidades que encontraria pela frente vestida naquelas roupas. Não me sentia psicologicamente preparada para experiência que iria viver, não estava em um lugar muito confortável (nunca estamos), mas tive medo e não queria viver a experiência.

Fui paquerada por um atendente da lanchonete, puxei papo. O lanche demorou a chegar, enquanto isso trocava algumas palavras com o atendente. Comi e o atendente (um garoto de uns 19 anos) se despediu de mim. Em seguida fui ao banheiro e me vesti com as roupas. Saí para o encontro.

Já havia estabelecido mentalmente quais seriam as reações das pessoas. Mas não foi como esperava.

Igreja são José: nada! Shopping cidade: as pessoas me olhavam sem enfrentamento, sem desdém, até com certo “respeito”. Entrei em lojas masculinas, fui muito bem atendida. Escolhia roupas entre os homens que garimpavam nas lojas e nenhum incomodo maior. Comecei a provocar as pessoas. Entrei em vários estabelecimentos, entrei em uma livraria e perguntei: Qual desses livros aqui é livro de homem? O rapaz desconsertado me respondeu educadamente que isso não existia. Eu lhe disse: Não sei, só sei que me falaram isso. Conversamos sobre o que lia, era um livro de economia. Vi um livro com título de alguma coisa puta, escrito bem grande na capa, pensei em não, mas perguntei depois: Isso aqui é livro de homem? Não esperei resposta. Fui ao encontro de vários homens sentados em poltronas lendo ou mesmo esperando. Fiz a pergunta a eles: aqui é lugar de homem? Depois constatei que havia uma mulher sentada bem atrás e fui embora. Encontrei mais tarde dois homens em uma banca de livros de economia. O que você está lendo? Livro de economia. É... é livro de homem. Fui ao cinema e fiz a mesma pergunta a um numero de rapazes que me indicaram Tropa de Elite e Piranhas: Sexo, sangue e terror. Saí pelo shopping perseguindo os homens. Sentava ao lado deles e os observava, imitava seus gestos. Eles não me desafiavam, não saiam para longe e na maioria das vezes tentavam agir com naturalidade. Passei a realizar toda minha trajetória em linha reta, desviando apenas das mulheres. Buscava e cruzava pelo meio os grupinhos de homens em pé pelos corredores. Não se afastavam e esbarrava neles aos controncões. Buscava achar entre as pessoas guetos ou pequenos redutos masculinos. Saí do shopping em linha reta em destino aos bares da Guajajaras. Esbarrei em um rapaz e derrubei sua cerveja. Parei por medo, mas não disse nada. “Você está delicada hoje!”. Pedi informação a um morador de rua. Ele me explicou com muita cordialidade vários endereços de bares e me avisou que havia um, mas que não era interessante pessoas como eu e ele entrarmos lá, pois era caro, um lugar mais refinado. Entrei em um boteco, pedi uma cachaça e um cigarro. Fui muito bem atendida.

Palácio das Artes. Senti calor e saí com a blusa levantada. Não me olhavam. Entrei pedi um café. Clovis estava em uma mesa atrás de mim. Pela primeira vez minha barriga não me incomodou. Eu a alisava com a camisa levantada e ninguém olhava, se me olhavam, não era um olhar especial: não me esnobavam, não me desafiavam, não se espantavam demais comigo, não me aprovavam ou reprovavam. Tudo muito natural.

Desde que saí do Shopping questionei se a minha provocação era pertinente. Se o melhor não era mesmo seguir o programa me nutrindo das experiências que cruzassem meu caminho...

Saí do shopping pensando no programa do Clovis que era me acompanhar, prestar atenção em mim e no que acontecia a minha volta e, com toda certeza, essas observações eram observações que me escapavam.

Fui ao banheiro masculino após tomar meu café. Meu corpo de mulher não causava incomodo, nem desejo, nem aprovação ou desaprovação. Entrei no banheiro, um homem usou o sanitário fechado e outro desconcertado lavou as mãos e saiu.

Fui para o supermercado Carrefur. Ainda com calor e a blusa levantada. Não comprei nada. Comecei a procurar o Clovis para saber como ele se comportava dentro de uma situação como aquela e o encontrei em um corredor de frente para mim. Achei muito engraçado seu repertório improvisado para permanecer por tanto tempo no supermercado atrás de mim.

Praça da liberdade. Parei em um bar. Fui gentilmente atendida. Não quis beber nada. Clovis se sentou em uma mesa em frente e me observava. Eu também o observava sem o olhar diretamente. Tomava um chope. Tirei minhas roupas da mala, pendurei-as em uma cadeira. Tirei a roupa que vestia. Vieram me expulsar. Saí da mesa e fui pra calçada. Um grupo de moradores de rua foi observado anteriormente por mim. Não sei o que se passou naquele momento, ampliar minha percepção sobre o que acontecia em torno seria me expor a perigo.

Ridículo! Será um mendigo, um desajustado, um sapatão, um transviado, um drogado entregue a alucinação, um lunático, serão todos performers? O que será que eu significo para quem me vê passar? São questões, sempre.

Pensei durante todo o meu trajeto nas minhas representações cotidianas e nas novas adequações criadas por mim juntamente com os transeuntes a partir das roupas de homem: uma camisa social bege, uma calça também na mesma cor e um sapato social preto e mochila nas costas. Fiquei cansada com a quantidade de elaborações sutis criadas cotidianamente por cada um de nos na vida social e a interdependência que existe entre eu e os outros nessas criações. Como eu queria um salto de liberdade que ainda não foi possível mesmo com aquelas roupas dentro de uma situação que seria originalmente traçada por mim. Comecei a pensar: esse programa é meu?

Terminei de me vesti e fui para o Maleta como havia começado: com roupas de mulher. Tudo termina quando me sento e encontro com as outras pessoas do grupo.

segunda-feira, novembro 01, 2010

macha fêmeo (postagem de Leandro Acácio)

Refletir sobre a questão dos gêneros [masculino e feminino], a partir da idéia e da experiência do cross-dressing (vestir-se com roupas do sexo oposto) é também se colocar grandes indagações: O que constitui uma identidade individual e uma realidade social? Tudo aquilo que somos é construído pelos outros ou nos é (socioculturalmente) dado? Se é construído, é construído de que? Claro que as tensões binárias entre “macho” e “fêmea” ou “masculino” e “feminino” são muito simples, mas servem de parâmetro para iniciar uma reflexão. Comportamentos cotidianos, comportamentos sexuais, trajes, adornos, gestos, modos de andar, roupas, tom de voz, são elementos que apontam, que determinam, modificam e marcam os corpos de uma dada sociedade.

Das sensações - how do you feel about yourself?

Sair de casa vestido de mulher foi [ex]ótico. No início, fiquei escondido no quarto, depois relaxei e pedi opiniões para minha família se a roupa estava boa ou não. Foi divertido. Fui para o local do encontro de táxi. O taxista ficou mudo o tempo todo da viagem. Tentei puxar assunto, mas ele não rendia a conversa. A sensação de usar SAIAS foi gostosa. É fresquinho e confortável. Os BRINCOS incomodaram um pouco, também eram muito pesados e eu não tenho orelha furada.

Do trajeto e das reações das pessoas - how people react to you?

As pessoas se mostravam quase indiferentes. Quando muito, fingem que nem estavam ali e nem era com elas. Muitas voltavam o olhar tentado conferir o que realmente estavam vendo. O que é aquilo? Homem? Mulher?
O primeiro local do percurso foi na Igreja São José. Pedi para alguns fiéis para conversar com o pároco. A mulher foi bastante generosa comigo e intercedeu junto ao assistente do padre. Quando o assistente me viu, ele falou ríspido: - Não, não, não. O padre já está muito velho para isso, volte no horário comercial.
Ao sair da igreja um homem me disse: - É preciso ser forte. É preciso ser uma fortaleza.

Segui o caminho pelo quarteirão fechado da Praça 7 de Setembro. No bar Pop Kid. Tomei um chopp, ouvindo música ao vivo. Tentei olhar para as pessoas, mas todas desviavam o olhar. O fato de estar sentado sozinho também tirava um pouco da naturalidade. O garçom foi bastante cordial. Fui tratado como uma dama.

Subi as escadarias da galeria Praça 7. Dois homens recusaram meu convite para sentar à mesa deles no bar Fórmula 1. Um deles alegou que “já estava esperando um amigo...” Aqui me uni à minha acompanhante Ninon (que até então observava tudo de longe). Achamos melhor assim pois ficar sozinho é pouco natural.

Descemos para a nossa última parada: Rua São Paulo e ramificações ou pra ser exato o “Sobe – desce” [nome popular dos puteiros do baixo meretrício de Belo Horizonte]. O nome é uma homenagem às escadarias do prédio/hotel repleto de corredores iluminados com luz negra. No sobe-desce fomos muito bem recebidos. Conversamos rapidamente com uma garota em seu quarto. Vimos suas instalações – uma cama redonda e um banheiro basicamente. Ela nos disse que o valor mínimo do programa era de dez reais. Detalhe importante: era aproximadamente 8h da noite e o sobe-desce estava bastante movimentado. Público jovem, na maioria. Fomos para o Scotch Bar. Pedimos cerveja e fichas para sinuca. Como não sabíamos direito as regras, pedimos ajuda a dois amigos que tomavam cerveja por perto. No início hesitaram, depois acabaram nos dando um breve workshop.

Liberal gerou.