A sinopse que escrevemos juntos contendo a proposta:
"Como transitar ações, elementos e corpos entre o espaço da rua e o espaço da galeria? O fora é também dentro? Os de fora podem entrar? Encontro do corpo da cidade com nossos corpos, várias superfícies permeáveis e em contato. Liminaridades. Lugar entremeios. Entrecorpos, entrespaços, entrelementos. O que nos resta é derivar, experimentar, encontrar e ocupar".
Tivemos as presenças de quatro artistas da imagem e da fotografia participando dessa ação: Daniel Botelho, Daniel Proztner, Gustavo Cavalieri e Thiago Franco Ribeiro.
Começamos com um aquecimento coletivo, foram sorteadas 4 duplas que sairiam para a deriva carregando 4 sacos de lixo com as cores da coleta seletiva: azul, verde, amarelo e vermelho. E cada fotógrafo acompanhou uma dupla até a chegada na porta do Sesc Palladium. As duplas foram: eu e Matheus acompanhados do Daniel Botelho; Lica e Davi com o Gustavo; Saulo e Leandro com o Daniel Proztner e Erica e Joyce com o Thiago. Vestidos de branco, a sujeira da cidade imprimiria suas marcas sobre nossas roupas. Chegaríamos transformados e bem "limpos" para a luxuosa inauguração do Sesc.
Minha deriva com Matheus foi uma aventura. Levamos um tempo maior para nos conectarmos, mas depois o Acaso foi nos presenteando com belas surpresas e encontros maravilhosos. Um exemplo: de repente nos deparamos com as "casinhas" da coleta seletiva, isto é, 4 grandes caixas coletoras na Av. Bias Fortes e lá um senhor, Amadeus, nordestino que disse tomar conta dali. Sentamos com ele e conversamos um pouco, criando paisagens entre nossos sacos coloridos e as grandes caixas. E mais: os sacos pretos que habitavam aquele espaço. Depois levei um saco preto fechado, sem saber qual tipo de material estava ali, para a instalação do Sesc.
Dezoito horas. Ao som da Ave Maria nossos sacos coloridos eram puxados por um grande tecido vermelho, Erica com um vestido rodado feito de embalagens de produtos de beleza, transportava, como uma pomba-gira, nossas ofertas do Fora para o espaço do Dentro. O foyer era o Entre...
Joyce coletou as sonoridades urbanas, montou uma mesa de som que trazia ruídos e fomos aos poucos revelando nossos materiais abandonados e fazendo instalações momentâneas. A rua entrava na galeria e revelava as sobras, restos, excessos e cores... O público transitava entre tudo e algumas pessoas trabalhavam conosco. Mas mesmo estando dentro, eu, ás vezes me sentia fora e deslocado, ou então, "entre" esses espaços....os restos compunham juntamente com o luxo das senhoras bem vestidas que aguardavam o espetáculo que começaria no teatro logo depois.
Estávamos no entre-espaço, como num entre-ato de outros acontecimentos....as pessoas viravam as costas e assistiam belas imagens num telão e nós atrás remexendo nos restos e criando espaços, obras, paisagens, relações....
Alguns bons momentos: Joyce colocou funk e dançamos, levei um espectador para se deitar no tecido vermelho e montei para ele uma cama com os sacos coloridos e Lica fazendo um anúncio de inauguração do Condomínio, no caso, do próprio Sesc. Até nossa saída foi muito interessante e provocativa: o público formava uma fila para a entrada no teatro e alguns de nós saíram dentro de carrinhos de supermercado com os corpos cobertos de restos e objetos. Uma caminhada muito lenta, às vezes uma procissão se formava, e íamos olhando para as pessoas, interagindo com elas, tentando criar relações.
Os de fora entraram...mesmo que por muito pouco tempo!
2 comentários:
Eu vim aqui pra complicar, não rpa explicar!!
muito instigante o relato das ações realizadas... queria muito ter estado com vocês nessa!
beijos
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