AGRUPAMENTO
OBSCENA (respostas CLÓVIS DOMINGOS)
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QUAL
O PERÍODO DE SUA ENTRADA NO AGRUPAMENTO?
Participo do agrupamento desde 2008 até hoje.
São 7 anos ininterruptos de aprendizagens, trocas, criação de projetos e ações
artísticas, pesquisas e conversas muito instigantes com diferentes parceiros, e
todo esse conjunto de fatores certamente me sensibilizou para as relações entre
corpo, arte e espaço público.
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QUAL
(QUAIS) A(S) MOTIVAÇÃO (MOTIVAÇÕES) INICIAL (INICIAIS) QUE LEVOU VOCÊ A
PARTICIPAR DO AGRUPAMENTO?
Primeiramente por ser um espaço de produção de
pesquisa, um grupo de estudos e um ajuntamento de artistas e provocadores com
os quais eu já dialogava desde a UFOP, onde me graduei no Curso de Artes
Cênicas. E tinha também as dimensões da arte contemporânea como a performance e a intervenção urbana.
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SOBRE
O FORMATO DAS REUNIÕES, ACERCA DAS DISCUSSÕES TEXTUAIS, PREPARAÇÃO PARA AS
AÇÕES, ETC., COMO VOCÊ CONSIDERA A SUA PARTICIPAÇÃO? PODERIA PONDERAR? OU SEJA,
COMO VOCÊ SE VÊ E SE MOVE DENTRO DO AGRUPAMENTO?
Percebo
que minha atuação é muito intensa e sempre me vejo propondo ações, textos para
leitura e estudo, publicando regularmente em nosso blog. Além de ampliar essas
reverberações para outros espaços como escolas, seminários de arte e em minha
produção acadêmica (tanto no mestrado como agora no doutorado em andamento na
Escola de Belas Artes da UFMG). Interessa-me também muito as pesquisas
diferentes da minha, pois aí realizo conexões e sinto que minha formação se
solidifica. Tento me mover com flexibilidade e generosidade, pois numa rede
colaborativa de criação é sempre perigoso nos tornarmos totalitários. Sempre
fico atento a escutar os outros, fortalecer as pesquisas coletivas e alimentar
a rede com os meus desejos, indagações, buscas.
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FALE
UM POUCO SOBRE AS LINHAS DE PESQUISA QUE VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES DENTRO DO
OBSCENA, CONSIDERANDO TAMBÉM OS EIXOS DE INTERVENÇÃO URBANA, AS LINHAS TEMÁTICAS
ACERCA DO FEMINISMO, GÊNERO, ENTRE OUTRAS; FALE LIVREMENTE.
Hoje penso que nosso grande projeto é a
questão do espaço público e a produção de ações artísticas, interventivas e
compositivas que dialoguem e tensionem a cidade. Debaixo desse amplo “
guarda-chuva” brotam outras linhas temáticas como: corpo, gênero, espaços
privatizados, artivismo, festa, violência, dramaturgias do espaço etc. Também
dialogamos sempre com outros coletivos artísticos da cidade e com movimentos
sociais. Acho que tudo que se refere à produção de um espaço urbano mais
humanizado nos interessa. A cidade somos todos nós!
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SOBRE
OS PROCEDIMENTOS ARTÍSTICOS QUE OBSCENA REALIZA NAS RUAS E EM DEMAIS ESPAÇOS
PÚBLICOS, COMO VOCÊ PERCEBE A PARTICIPAÇÃO DOS TRANSEUNTES? COMO O OBSCENA
AFETA A CIDADE A PARTIR DE PEQUENAS FISSURAS, AÇÕES EFÊMERAS, ETC.?
Nosso
interesse sempre foi ir para a rua numa tentativa de conversações
cênico-poéticas com pessoas da cidade, e na maioria das vezes, gente fora do
circuito estabelecido da arte. As questões que produzimos nos afetam, tentamos
afetar a cidade e somos afetados pelos transeuntes. Há todo tipo de reação:
curiosidade, gentileza, espanto, incômodo, agressividade e indiferença. Quando
as pessoas se aproximam ou interrompem seu trajeto devido a alguma
interferência nossa, acredito que uma ponte se estabelece. Aí perdemos a
autoria e nos abrimos ao imprevisto e ao inusitado. Nessa possibilidade de
encontro alguma coisa acontece e a ação artística se desdobra, ganha novas
camadas, que sozinhos não teríamos como perceber. A comunicação na cidade na
maioria das vezes se efetua pela mediação (seja nas propagandas, placas, outdoors, formações) e nós propomos a
interação que pode ser sensorial, imagética ou sonora, e com a linguagem sempre
no desvio, no sentido da eficiência. Tentamos provocar ruídos na paisagem. Nos
chamam de loucos, vagabundos, artistas, manifestantes etc. Eu recebo essas
expressões de bom grado. Gosto de perder a autoria para ganhar a relação, a
tensão, um momento de encontro. As afetações que provocamos não dá para
avaliar, fato é que somos mais provocados do que tudo. Acho que essas
provocações urbanas não são disputas de poder pelo espaço, são apenas
tentativas temporárias de criar pequenos respiros, trocas mais afetivas,
vulnerabilizar espaços às vezes tão áridos e duros. Como amaciar o concreto? Esses
dias em minhas andanças pela cidade li uma frase grafada num muro: “ Tédio
urbano, sufoco cotidiano”. Então é isso: tentamos oxigenar poeticamente a
cidade, criar aparições extraordinárias, colorir ou desautomatizar um pouquinho
do cotidiano. Às vezes dá certo, outras vezes somos nós que nos transformamos
pelo contato com as ruas.
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FALE
UM POUCO SOBRE A SUA PARTICIPAÇÃO NOS PROJETOS ATUAIS E AS REVERBERAÇÕES NO
AGRUPAMENTO.
Atualmente
temos muitas frentes de pesquisas e atuações em outros lugares e uma certa
dificuldade de articular tudo isso junto ao obscena. Vivemos um momento mais
desarticulado da pesquisa, isso inclusive gera crises e até deserções. Há
sempre um conflito entre o instituído e o instituinte.
A meu ver os projetos atuais apontam para parcerias com outros coletivos numa
tentativa de reinvenção. Nessa instabilidade vivemos atualmente e são oito anos
de trabalho continuado, talvez até seja natural uma entressafra, fato é que o
momento pede novos movimentos, novas formas de funcionar, pesquisar, colaborar.
Por outro lado, o agrupamento atualmente é investigado em quatro pesquisas de
mestrado (na UFOP e na PUC-SP) e duas pesquisas de doutorado (UFMG). Talvez
seja um tempo de reflexão e pausa necessárias, mas certamente o próximo ano (2016)
será decisivo para os rumos do trabalho.
Belo horizonte, Dezembro de 2015.
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