Local: Viaduto de Santa Tereza. Espaço definido, paralelo, com bela arquitetura e convidando à criação de paisagens e composições de cores e formas. Primeira impressão que tive já em ação: "isso é uma revisitação do cores e formas na cidade", só que com um dado a mais: essa intervenção tem espaço aberto à intromissão e participação dos transeuntes. No cores e formas, os performers trabalhavam a percepção de forma individual ou coletiva (um cardume de cores), era mais "fechado", aqui percebo mais abertura à participação das pessoas. Se busca uma relação (pela leitura) com o outro...
Tive uma certa dificuldade no início da ação; fiquei perdido no espaço. Então sentei-me no banco num passeio e fiquei lendo solitariamente. Depois percebi um jogo de cores se formando com outros obscênicos e li trechos do livro para Leandro, puro Azul. Depois triangulei com Joyce e Leandro, as cores ganharam destaque nessa geometria do acaso e do encontro.
Elementos constitutivos da ação CADEIRAS: percurso (caminhada), pausa (para se sentar ou experimentar a cadeira, se ler, se perceber a cidade, criar relações com as pessoas etc), cruzamento (corpos e cores avançam, cortam, atravessam umas e outras) e encontro (de espaços, pessoas etc).
Houve nessa experimentação de quinta, uma boa escuta do espaço e percepção aguçada dos passos de cada performer. Viemos como um "bloco", mas não juntos e sim intercalando, colorindo, interrompendo, mas se deslocando. Um cartucho de tintas tatuando o viaduto...
Eu de branco acabei atraindo a Lissandra que estava de preto e assim jogamos, cruzamos, trocamos leituras, nos afetamos corporalmente. Talvez a leitura de uma oposição entre branco e preto, mas algo se impôs sobre nós e recebemos e experimentamos.
É uma ação plural: pode-se experimentar muitas relações: a cadeira, o livro e a leitura, o trajeto, a relação com os outros performers, a plasticidade da cor e forma, a teatralidade etc... Minhas impressões no meio da ação de quinta: Nina e a plasticidade do vermelho no corpo e espaço; Lissandra e a teatralidade na leitura e no corpo; Frederico e a performatividade na presença quase espontânea e a leitura mais solitária etc. Me percebi nessa primeira vez mais jogando com o espaço e interessado na leitura para alguém.
Li um trecho do meu livro para umas garis que pararam e me deram atenção, e uma delas disse que aquilo que eu falava havia acontecido com ela e se identificou com o texto narrado (Isso aconteceu com Nina que já relatou tal vivência aqui no blog). Para mim há aí o encontro e fricção entre PERFORMATIVIDADE e TEATRALIDADE. Mas por quê? Porque me coloco no espaço público e executo uma ação: "ler" (performativo, fazer algo), crio uma interrupção e um interesse, e uma pessoa estranha que me escuta recebe um texto ficcional (obra literária) como algo destinado à ela, que fala da vida dela e se estabelece então um diálogo e uma identificação.
E se lêssemos o espaço do Viaduto como um território cênico, no qual, performers coloridos, atuam lendo obras artísticas para as pessoas e o espetáculo termina numa escadaria de um centro comercial no coração da cidade? Seriam como CANTEIROS POÉTICOS. Uma percepção individual e ao mesmo tempo coletiva das pessoas que ali acontece algo meio diferente... Se o Lehmann estivesse presente, acho que ele afirmaria que se trata de um teatro Pós-dramático. Explosão do tempo, espaço e ação...quase um teatro para uma só pessoa....
No nosso caso, eu substituiria espetáculo por EXPERIÊNCIA ou provocação para e na cidade. Ela sim como um "cenário expandido", heterôgenea e múltipla, aberta à encontros e acontecimentos. A criação desses canteiros poéticos, coloridos, com forte dosagem de teatralidade (pela cor, forma, acessórios, corpo, voz) é que despertaria e convidaria a percepção dos transeuntes a participarem desse belo e instigante "JOGO DAS CADEIRAS".
A foto acima é de Whesney Siqueira.
4 comentários:
nossa, clovito! que questoes interessantes vc coloca nessa leitura das cadeiras... sim, interessa muito esse atrito entre teatralidade e performatividade que as cadeiras permite. muitas possibilidades a serem (experimentadas) descobertas...
Acho que esta questão é fundamental Clóvis e creio, como conversamos na quinta passada, que podemos dialogar com o trabalho de mestrado de Leandro.
Enfim, coisas boas e novas fontes de diálogo se abrem para mim.
Clóvis! Que palavras lindas vc usou, como tece bem o tecido do texto! Quisera eu entender assim, tecnicamente, de teatro e performance, a minha esperança é... que um dia eu chegue lá, nem que seja com a minha cadeira! kakakakka...um bj! Foi mesmo lindo colorir o Viaduto da Santa com cores novas e vibrantes, cores quase sem nomes!
Fredddd! òtima a sua proposta e que bom que ela está recebendo linha! Bjs!
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