14/09 - Às seis
começamos. Limpei o salão, já me aquecendo com o cuido do espaço, cuidar está
muito relacionado com a condução, quem conduz cuida do conduzido e este cuida
em saber em quem confia, assim fiam junto ações, experimentam a junção de seus
corpos, criam dinâmicas de apoios e improvisam no espaço. Ambos estabelecem
códigos de confiança e intimidade, o tempo de trabalho afina a escuta. Isolar a
visão abre minha percepção, isto é claro quando a faixa cai e tenho de ficar de
olhos fechados, se não entendo o que o corpo de Lucas me propõe abro para ver o
movimento, a venda isola também a luz, daí tenho de ampliar minha percepção do
espaço. Meu pique de trabalho está baixo, meu corpo muito preso e preguiçoso,
tenho de intensificar os exercícios físicos para dar mais gás às nossas
experimentações, percebo que desejo ocupar mais e mais espaços, dançar horas e
horas neles, mas o fôlego está curto, para próxima semana tenho de criar uma
rotina de caminhadas e alongamentos para recuperar ou recriar minha potência
física.
Percebemos que as
articulações dos pés têm de estar bem lubrificadas para a dança ficar mais
leve, meu corpo fica mais leve quando uso bem os pés, principalmente a ponta
quando ele me conduz e os três apoios quando estou mais distante do seu corpo,
fico mais equilibrada e mais segura no espaço. Para o próximo encontro
trabalharemos mais exercícios de base e enraizamento, Lucas quer experimentar
outras dinâmicas como o Contato de Improvisação, eu ainda não me sinto apta...
21/09 – Esta semana
decidi retornar com meu antigo treinamento físico: caminhada de 1h e meia,
alongamentos e contra minha vontade abdominais, que isso fique muito claro, rs!
O corpo agradeceu, estava muito parada ultimamente, só trabalho trabalho... e
nada de condicionamento físico. A mente também agradeceu. A cada encontro
percebo o quanto fica mais tranqüilo aceitar a condução e criar com ele e, o
quanto meu corpo está se atrevendo no espaço, que não vejo. Vez em quando ele
me gira, assim como duas crianças de mãos dadas, eu grito, rio, é uma sensação
muito boa e arriscada, não vejo nada, mas nossos dedos se seguram como garras e
o corpo se solta. Quando paramos eu danço mais leve, creio que é porque perco
totalmente a referência espacial, me sinto dançando num vácuo.
Lucas mantém algo que
para ele é essencial e sempre toca neste ponto em nossos encontros: a
delicadeza, a intimidade e o cuidado ao tocar meu corpo, é algo como sagrado,
delicado, um toque que chega com muita sutileza e que ao mesmo tempo demonstra
firmeza e confiança. Desta forma estamos criando códigos de comunicação sutis,
enquanto nos alongamos e aquecemos mantemos os olhos nos olhos, gerando desde
este momento cumplicidade. Neste encontro trabalhamos muito enraizamento e para
leveza a dança dos ventos, os pés são fundamentais para o trabalho. Aos poucos
vou arriscando mais, neste me soltei mais pelo espaço e deixei ele me guiar
quando algum obstáculo aparecia, confiei, dancei só, aliás ele tem me deixado dançar
só e vai se chegando, isso faz com que eu o perceba melhor também, dá para
sentir sua movimentação à minha volta, cada encontro fica mais clara a
comunicação entre nós e isso faz com que nos desafiemos mais e não nos
acomodemos.
Tenho notado certas
diferenças em meu feminino desde o princípio desta experimentação, estou menos
ansiosa, há no contato com o masculino algo que gera um aterramento em certas
histerias do meu feminino, o fato de Lucas ser quase da mesma altura que eu
também me proporciona uma relação literalmente mais horizontal com um homem,
percebi que convivo muito com homens bem mais altos que eu, aliás não é tão
complicado ser mais alto que eu com meus 1,59m. Enfim, não tenho de olhar para
cima e sim para frente, ele não tem de se abaixar para chegar até mim, estamos
fisicamente próximos e isso é bom, me traz uma outra perspectiva, gera em mim
outra forma de olhar o masculino. Outra alteração é no meu humor, sou conhecida
pelo estopim curto, mas tenho aprendido a contemplar, esperar e a ser mais
dócil, mesmo com toda minha acidez, há uma leveza na dança, mesmo que esta seja
pesada, há um desprendimento que tem aplacado minha agressividade e trazido
mais clareza aos meus atos, um novo eixo, um novo centro. Minha relação de
posse com as coisas e pessoas também tem se desmanchado, tanto por este quanto
pelos meus outros exercícios obscênicos, é essencial abrir mão do controle,
deixar a situação se mostrar e só assim agir/reagir, tranquilamente ou
imparcialmente ou cautelosamente.
Sexta próxima dançaremos na Praça da Estação, por volta das 17h, será nosso primeiro dia de RUA!
Até lá!
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