Dia 04/08, primeira semana de trabalho do Obscena pós férias. Retornamos determinados a explorar mais as ruas de BH, independente de qualquer condição.
Sigo para o trabalho, trago comigo 4 sacolas de roupa de calcinha à cachecol. São restos de mim, produtos dum desejo, dum presente que cumpriram já comigo sua estadia, agora é hora de abandonar estas cascas. Resolvo torná-las em trouxas de roupas, trouxas de mulheres roupas e dependurá-las na estrutura de ferro que há embaixo do Viaduto Santa Teresa. É um espaço hostil, com vários moradores de rua que dominam a área e sente-se incomodados com nossa presença, um deles passa e avisa para tomarmos cuidado com as fotos, outro se aproxima e diz que aquilo que fizemos ‘parece mais é Carandiru!’ e pergunta que hora será o teatro.
Desde 2008 trabalho com o abandono, o que do meu corpo pode ser deixado no corpo da cidade e quais as formas de executar isso? São questões que me perpassam. Como deixar meu sopro nesse concreto?
Uma teia foi-se formando com as trouxas de roupas mulheres, contei com a presença ativa afetiva dos pesquisadores do OBSCENA, como também dos artistas colaboradores Matheus, Fred e Patrícia. Não houve direcionamentos, simplesmente apresentei os materiais e convidei ao trabalho. A proposta de Saulo foi muito próxima à minha e logo unimos nossas instalações e reorganizamos a paisagem.
Nina e Lica trabalharam com a Mulher Painel, na qual o corpo de Lica é suporte ambulante de notícias sobre o gênero feminino, da saúde ao assassinato ela exibe aos transeuntes sua roupa páginapainel.
Joyce espelhou post’s pelas pilastras com frases que expressam bem a situação da cultura em BH. Em outra ação ela saca uma meia fina do bolso e enrola o cabelo tentando ridiculamente formatá-lo dentro duma toca. Enquanto isso seu celular toca a música “little boxe’s’ (creio que é esse o nome).
Clóvis propôs a fila para o nada e é interessantíssimo como com o perdurar desta os transeuntes vão se incomodando com aquela ‘falta de propósito’.
Reiniciamos nossas atividades – ocupação da cidade em reação à privatização sistemática do espaço público!
Um comentário:
Erica, é isso mesmo: fazer da rua um lugar de encontros e não apenas de passagens e direcionamentos. Foi realmente um dia de muito trabalho e novas possibilidades de intervenção.
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