agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

domingo, dezembro 10, 2017

PAROLAGEM DA VIDA: Ler Drummond na ação Cadeiras em Ouro Preto

Emoção ler alguns poemas de Drummond no Fórum das Letras de Ouro Preto na ação Cadeiras junto ao Obscena.

Poetizar o escritor religioso, apaixonado e sempre se espantando com o absurdo viver e nossa pequenez existencial!

Eu, amarelo.... sombrinha amarela, coração vermelho, alma roxa....

As cores das roupas e cadeiras criaram lindas composições e imagens na paisagem da Praça Tiradentes.

"como  a vida ri
a cada manhã
de seu próprio absurdo
e a cada momento
dá de novo a todos
uma prenda estranha" (CDA). 


Carta para as participantes da Ação Irmãos Lambe-lambe no CSE São Jerônimo


Belo Horizonte, 25 de outubro de 2017
Olá,  

Como vai você?

Quem escreve daqui é o Clóvis e o Leandro, irmãos Lambe-lambe que fizeram uma visita a vocês junto com o professor Davi.

Foi mesmo incrível e criativa a manhã que passamos juntxs, conversando, criando, fazendo fotos.  Foi leve. Nos fez pensar sobre a importância de alguma coisa em nossas vidas... Daí lembramos que o poeta Manoel de Barros tem uma frase que diz “a importância de uma coisa há de ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.” E, olha, aquela manhã foi realmente uma coisa muito importante para nós, pois podemos conectar com nosso EU, num exercício generoso de aprender mais sobre nós mesmos com o outro.



Coincidência feliz de nosso encontro acontecer no início da primavera desse ano. E temos na lembrança e nos registros das fotos muitas cores e flores de fundo revelando nossos sorrisos. 

Muito obrigado pela acolhida de vocês a nossa visita. Desejamos, de coração, tudo de melhor!!!

P.S.: Achamos muito lindo o caderno de bordo que vocês fizeram. Cheio de escritos, desenhos e poemas super legais.

J
Com carinho,
Irmãos Lambe-lambe
(Clóvis e Leandro)






terça-feira, novembro 28, 2017

Ainda é possível DESOBECER?

O último café-conversa do Obscena em parceria com o Sesc Palladium foi realizado com as provocações de Frederico Caiafa que abordavam questões sobre a desobediência cênica e atualizavam as perseguições contra a arte nos dias de hoje.

Transcrevo minhas afetações-impressões:

Foto de Marúzia Moraes

- Fred com seu "corpo plataforma" de pequenos textos, realiza uma performance apresentando um corpo atravessado pelas injustiças sociais.

- o EMOCIONAR-SE como forma política e afetiva de se estar no mundo ( fala do Matheus Silva, integrante do Obscena).

- Quais seriam as desobediências do cidadão comum no espaço urbano? Táticas e estratégias a partir das ideias de Michel de Certeau.

- Quais as desobediências possíveis, molares, clandestinas, imperceptíveis?

- Haveria de fato uma liberdade na vida social, ou ela seria condicional e relativa?

- A intolerância ao diferente voltou como mote temático.

- Será o convívio uma forma de política? A política e a polícia em Rancière.

- café não é apresentação, é conversa, logo: PARTICIPAÇÃO. Logo: "performance coletiva", espaço construído, risco o tempo todo... Da artista peruana e seu depoimento ao ver um Brasil EMPOBRECIDO  ao homem agressor que tenta calar a fala de uma mulher que afirma seu direito ao aborto. 

- como sair da opinião pessoal e gerar de fato conversas, fios que se estendem a partir de atos de fala e de escuta? Como criar PERGUNTAS?

- E os artistas desobedientes nas ruas: o menino do malabares na faixa de pedestre, o grafiteiro, o rapper, os homens-estátua?



Como conciliar a aldeia global e a aldeia local? Estamos cercados de flores plásticos. Estamos cercados de câmeras de vigilância. Estamos cercados de grades. Estamos cercados de medo do encontro. Estamos cercados de jardins artificiais. Estamos cercados de possibilidades de desobedecer. Estamos cercados de discursos. Há tanta polícia internalizada em mim. Taz. Eles cantam escravos de Jó e coreografam o Caxangá. Eu faço zigue zigue za. Pequenas camuflagens. Delicados desvios... Faço Taz, faço jaz, faço jazz. Duro pouco. 

terça-feira, novembro 21, 2017

Como aceitar a raposa morta?

No terceiro café-conversa do Obscena, Matheus Silva falou de sua pesquisa sobre o corpo queer, e mais, se apresentou e performou as questões urgentes desse corpo-besta-animal-raposa nos espaços da cidade! Quem tem direito à VIDA na cidade?

Apresento algumas notas reflexivas dessa experiência vivida:

- a nossa dificuldade de aceitar a violência presente na sociedade brasileira, violência naturalizada, como se não existisse aqui no país. A "imagem congelada" do brasileiro harmonioso e gentil, cordial... Isso é uma falácia!!!! Aceitar a raposa morta todos os dias é muito constrangedor para ser refletido no espelho de um povo que se deseja acolhedor, isso quebra nossa imagem idealizada! Serão "ficções de tranquilidade?" A violência está na tela de tv apenas e nos jornais?

- Por quê liquidar as "vidas menores" na Diferença? Por quê se exigir homogeneidade nas formas de se pensar, amar, ver o mundo?

- Seremos corpos-bichos? O inumano é tolerável? Que corpo bizarro é esse? A supremacia do ser humano racional e dono do mundo? Pretensão, arrogância ou ingenuidade? Que corpo é esse como "Montagem"? Me lembrou Paul Preciado e corpo como tecnologias.

Imagem: Marúzia Moraes

- Como levar essas conversas para as comunidades da cidade, as periferias? Boa questão. Mas a rua é tão heterogênea, que marca um ponto de encontro com gente tão diferente. Estarei enganado?

- quem desacredita de você? Quem te fragiliza? Qual é o papel da arte? Folha molhada na chuva?

- o alargador na boca, a fala violentada, feito um animal que GRITA! Isso baba.... sulco, saliva, corpo vivo.... A corda no corpo, feito corrente... será esse corpo da raposa uma atualização de um corpo escravizado? Quem é o capataz? Quem é o Senhor do Engenho? Lembro da Butler: " a polícia de gênero"......

- daquilo que resiste a civilizar-se!!!! domesticação...

- a raposa está morta? quantas raposas querem viver? quem vai lutar por essa fauna chamada HUMANIDADE?

- a rua é REDE: conexões, indagações, falas, escutas, provocações, peixes de um mar chamado cidade....

- da "Mais-valia" para:

o mais-ENCONTRAR
MAIS-RUA
MAIS-luta
mais- ação. 

terça-feira, novembro 14, 2017

é um café-conversa uma obra de arte? uma intervenção urbana? uma obra em construção?

Nos cafés-conversas realizados esse mês pelo Obscena, me veio essa questão:

 O que estamos criando juntos num tempo e num espaço compartilhados? Uma obra de arte? Arte como Encontro? Dispositivos relacionais? Arte e política? 

Na mesa de café: comida, sabores, partilhas, afetos
Na "mesa" de conversa: saberes, partilhas, conflitos, diálogos
No chão da rua: buracos, pausas, interrupções, formas horizontais....

O que pode a fala? O que pode a Escuta? Serão espaços de escuta? 

Foto de Frederico Caiafa

"A essência da prática artística residiria assim na invenção de relações entre os sujeitos; cada obra de arte em particular seria a proposta para habitar um mundo em comum e o trabalho de cada artista, um feixe de relações com o mundo, que geraria por sua vez outras relações, e assim sucessivamente até o infinito" (Bourriaud. Arte Relacional). 

Que relações outras estariam sendo geradas então? 

é possível um mundo comum que sustente a Diferença? 

sábado, novembro 11, 2017

Sobre cidade e memória a partir dos Irmãos Lambe-lambe

Aconteceu na última sexta-feira, mais um café-conversa no Sesc Palladium sobre as ações e pesquisas dos integrantes do Obscena. Dessa vez, fui o mediador da conversa a partir da discussão das questões do afeto e memória nos espaços da cidade. Partilhei a ação urbana "Irmãos Lambe-lambe" que juntamente a Leandro Acácio venho desenvolvendo há seis anos em diferentes contextos da cidade.



Uma boa conversa sempre gera novas questões. e surgiram falas de participantes que muito me instigaram, como por exemplo, a ideia e desejo de realizar um lambe-lambe numa moradia de idosos ( pela questão deles preservarem a prática da memória) e a questão dos nomes dos lugares serem nomeados para evocarem pessoas e acontecimentos que interessam mais ao Poder Público, do que a uma comunidade, daí a importância da memória como singularidade e subjetividade. 

Para Jacques Le Goff  "a memória não é só uma conquista, mas também um instrumento e objeto de poder". Daí discutimos: o que nos dizem os monumentos presentes na paisagem urbana? Quem escolhe o que deve ser lembrado e o que deve ser esquecido? Por que os nomes masculinos são maioria nos monumentos e praças da cidade? 

Também falei da montagem da memória, isto é, a luta e conflito que se dão entre história, memória e narrativa.... Também discutimos sobre a velocidade das imagens e como a carta é uma experiência temporal...  Citei Vilém  Flusser:

“Eu desconheço se já se desenvolveu alguma filosofia por meio de troca de cartas. Ela deveria partir de uma análise do esperar. Cartas são coisas por que se espera – ou que chegam inesperadamente. Naturalmente, esperar é uma categoria religiosa: significa ter esperança. O correio fundamenta-se no Princípio Esperança. Os carteiros, esses gentis funcionários medievais, são anjos (de “angeloi” = mensageiros), e o que eles carregam são evangelhos (mensagens felizes conforme a esperança amparada pelo correio). [...].  (FLUSSER, 2010, p.116)”. 

Foi um encontro-conversa bem dinâmico, e até surgiram lembranças do Sesc Palladium e suas longas filas de cinema, como também, os antigos e hoje extintos espaços de exibição de filmes na cidade. 



Podemos falar de múltiplas memórias: a social e a oficial, a singular, a instituída, daí pensar em coexistências mnemônicas atravessando fluxos temporais e espaciais. Memória como conflito. O que somos levados a lembrar e o que não podemos esquecer. 



terça-feira, novembro 07, 2017

Quando um Espaço do Silêncio é falado


Nina Caetano, performer e integrante do ObsCENA abriu na última sexta uma série de cafés-conversa nas ruas da cidade, num projeto de parceria com o Sesc Palladium. A artista falou de sua pesquisa com a ação "Espaço do Silêncio".



 Como pesquisador e integrante do agrupamento, acompanhei essa ação dialógica e artística e escrevi algumas notas sobre o acontecimento:

- Qual a força da palavra, do manifesto lido, da voz que pulsa? O que pode ecoar quando um trabalho artístico é compartilhado publicamente no espaço urbano?

- Como é falar de violência, machismo e feminicídio no espaço aberto da cidade, quando esta é vivenciada como ameaçadora à integridade das mulheres?

- Como um dispositivo cênico-performático como a presença viva da artista e a instalação dos lençóis com as etiquetas das mulheres assassinadas atua no imaginário urbano e provoca reverberações?

- Quando outras mulheres falam de assédio, misoginia e luta, o que acontece como enunciação coletiva e discursiva?

- Arte e política não são forças e táticas que se encontram? é possível separá-las de fato? Qual arte não será política? O que fala um espaço de conversas senão de uma política de corpos? Não serão situações liminares, isto é, interstícios entre arte e ação cidadã?


- Os lençóis expostos também denunciaram para além das estatísticas, pois singularizam mortas e assassinos. Como permanecer indiferente a tudo isso?

- Quando o espaço do silêncio se torna ESPAÇO DA PALAVRA, não haveria nesse deslocamento um ato político, de reconfiguração, de denúncia para ANÚNCIO?

- O espaço falado foi também um ESPAÇO DE DIÁLOGO. Os homens presentes também puderam falar, mas escutaram muito mais. Nina convocou a todos nós para essa luta. Os homens também precisam discutir entre eles essa temática. Nesse ponto trago um trecho do texto de Márcia Tiburi que afirma:

"Às vezes um lugar de fala pode ser um lugar de dor, às vezes um lugar de dor pode ser um lugar de fala. Se o lugar de fala é abstrato e silencia o outro onde deveria haver um diálogo, então ele já não é mais um lugar político, mas um lugar autoritário que destrói a política no sentido das relações humanas que visam o convívio e a melhoria das condições da vida em sociedade".

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Segunda edição do projeto cOOFee CENA - Conversas públicas

Publicamos aqui uma parte do texto de apresentação desse projeto realizado agora em Novembro em parceria com o Sesc Palladium em Belo Horizonte:


Aí começa a inevitável pergunta: isto é arte? Não, senhoras e senhores: a arte é que é isto. Qualquer isto. Um isto problemático, reflexivo, que é necessário interrogar e decifrar...


No mês de abril o obsCENA Agrupamento desenvolveu uma série de ações artísticas e formativas junto ao Sesc Palladium, dentro da programação do eixo temático e curatorial DE REPENTE ISSO É ARTE?

Dentre as ações de ocupação e intervenção artísticas urbanas propostas, o cOFFee-CENA se destacou por produzir quatro encontros com debates públicos e abertos a todas as pessoas interessadas em arte contemporânea, seus desafios, linguagens, espaços institucionais, alcances e diálogos com a vida social. Uma micro-comunidade se formou na área externa do Sesc Palladium e, além de uma mesa com café colocada para todos se servirem, também foram disponibilizadas cadeiras, e bancos, que garantiram a criação de uma espacialidade circular e horizontal, permitindo a livre circulação de ideias e falas.

Tal evento nos revelou a potência desses encontros interdisciplinares e indisciplinares, capazes de gerar um espaço de fato público e acessível a todo tipo de colaboração, indagação e produção de conhecimentos sobre o papel da arte na sociedade contemporânea.

Diante disso, propomos a realização de uma nova série de cafés-conversas organizados e mediados pelos integrantes-pesquisadores do Obscena, agora num novo formato: a cada encontro, um ou dois artistas trazem provocações para serem lançadas aos presentes, a partir de suas pesquisas de interesse, cujas temáticas perpassam a arte contemporânea em intenso vínculo com questões prementes da vida urbana, tais como: arte, cidade e memória; performance e violência contra a mulher, o universo ciborgue queer, os movimentos sociais e ações artivistas: arte de ação direta, de transformação e questionamento etc. 

Entendemos que tais assuntos são de fundamental emergência para o momento político atual, no qual a violência, a intolerância e o fascismo têm ameaçado fortemente os direitos democráticos e a discussão séria, daí a importância de se colocar a palavra expressa em movimento e circulação no espaço público, criando fóruns de discussão nos quais as diferenças sejam respeitadas e as vozes das ruas possam soar, de modo que também possamos realizar o necessário exercício da escuta dos outros.

A arte no espaço público atua na construção e efetivação de uma coletividade capaz de se auto-criticar e minimamente repensar seus direitos e deveres, principalmente na cidade que se constitui como lugar de disputas espaciais, simbólicas e discursivas. Nesses cafés-conversas cria-se a oportunidade de se fazer política e arte públicas, a partir de temas comuns, bem como de se investir na potência de transformar e dar visibilidade a outros encontros, outros modos de subjetivação que afirmem a vida e a arte em toda sua diversidade.


      

quinta-feira, setembro 28, 2017

Lambe –lambe Primavera



Sábado, dia 23 de setembro, realizamos a ação Irmãos Lambe-lambe no Centro de Reeducação Social São Jerônimo em Belo Horizonte. Fomos convidados pelo artista e educador Davi Pantuzza, que também foi integrante do Obscena. Realizar a ação num espaço sócio-educativo para jovens do sexo feminino se configurou como um deslocar-se e desalojar-se. Primeiro porque a ação foi desalojada da rua para um espaço privativo. A ideia inicial era realizar o lambe numa praça da cidade: Praça da Liberdade. Mas por motivos de força maior, tal desejo não pôde se concretizar e então tentamos criar uma praça com flores dentro de um espaço prisional, o que se constitui como uma heterotopia.

Levamos flores com cores diferentes, além de tecidos, para que pudéssemos subverter momentaneamente o espaço duro da Unidade. Outro desafio foi não podermos utilizar nossa câmera fotográfica e nem ficar com as imagens feitas das jovens participantes, isso por serem menores e por questões institucionais e de segurança. Dessa forma, a câmera fotográfica utilizada foi a da Instituição e Davi ficou responsável de imprimir as imagens para serem entregues às jovens, enquanto nós enviaremos uma carta.


Uma característica muito marcante nessa experiência no São Jerônimo (o Obscena já desenvolveu um projeto lá também há alguns anos) foi a participação interessada das 05 jovens que já trabalhavam com Davi, que criaram diferentes e inusitadas composições com as flores, tecidos e corpos. De fato, a primavera se apresentou nessa experiência!!! Houve um momento no qual elas decidiram em como o Davi seria fotografado, criando arranjos com flores e tecidos. Isso para mim revela a força dos laços de afeto e proximidade que foram estabelecidos. Num ambiente cuja atmosfera é sempre hostil, vivemos momentos de alegria, criação e encontro.

Depois de feitas as imagens, tivemos um momento em roda com exercícios de respiração e conexão corporal. Elas partilharam textos trabalhados com Davi, mostraram seus cadernos de processo e juntos registramos num tecido nossas sensações, afetações, a partir de escritas, desenhos, e as flores também vieram se juntar a esse tapete colorido.


Foi um lambe diferente, até nossos sapatos foram retirados. Descalços pisávamos num território comum: o sensível e o humano. Isso me lembrou o texto do Nilton Bonder, no qual, o autor diz que os sapatos são como identidades que nos protegem do encontro com os outros na diferença. Ali vivíamos exatamente isso: diferença, desalojamento, menos identidade e mais ENCONTRO!

Num determinado momento, uma jovem pediu que juntássemos os dedos e formássemos o desenho de uma estrela. Alguém falou: a Estrela de Davi. Interessante porque simbolicamente, em várias culturas, este é um objeto e escudo de proteção. Acredito que a arte, como campo sensível, nos proteja do contato com o horror do real. Arte é metáfora, linguagem, tessitura, elaboração, reconexão e espiritualidade. Arte é utopia. Criação de um outro mundo paralelo ao mundo do concreto, ao mundo já estabelecido e às normas vigentes.



Foi um encontro muito bonito porque desalojado, trazendo poesia e inquietude, feito nas frestas, como a imagem deleuziana da flor que emerge em meio ao chão cimentado e cria uma linha de fuga. A flor que abre e transborda os espaços duros. Volta a imagem dos vagalumes do texto do Didi Hubermann. A realidade nunca está dada, há pequenas luzes que brilham em meio à noite! Há sobrevivências.... Práticas minoritárias, vagalumes, efêmeras, por isso potentes, se fazem, se desfazem, se refazem. Afirmam os possíveis. Não são prisioneiras do ideal, mas abraçam o real que nos desafia. Como estar à altura daquilo que nos acontece?

Como acolher o inverno e fazer dele primavera? Como viver inverno e primavera juntos? Como viver arte e produção de mundos? Como desalojar e realojar? Procuro-me ou Perco-me? Mas ao me perder encontro com os outros! Encontro as forças compositivas de um mundo possível. E a rua se criou num espaço fechado. Mas rua é diversidade, e lá tínhamos tal realidade. Certezas ou formas pré-estabelecidas podem ser grades que nos aprisionam. A liberdade talvez habite o risco, o não-saber, a aventura, o perder-se....


PROCURO-ME

PERCO-ME

ENCONTRO-TE!!!


domingo, setembro 03, 2017

"Nós levamos o mundo na nossa boca ao falar".

Cadeiras: corpo, palavra e espaço.

Cadeiras: cor, corpo, encontro, deambulação...



Cadeiras: atravessamentos, fala, buracos, vazios....

Na Ocupação A RUA VIVE!!!

Na Festival LIVRO NA RUA!!!!!

"falar é antes abrir a boca e atacar o mundo com ela, saber morder. O mundo é por nós furado, revirado, mudado ao falar (...) Nossa fala é um buraco no mundo e nossa boca uma espécie de pedido de ar que cava um vazio - e uma reviravolta na criação" ( VALERE NOVARINA. DIANTE DA PALAVRA).

quarta-feira, julho 05, 2017

Leituras...





O artista – integrado ou apocalíptico que seja – não pode deixar de existir no contexto social, na cidade; não pode deixar de viver suas tensões internas. A economia do consumo, a tecnologia industrial, os grandes antagonismos políticos que delas derivam, a disfunção do organismo social, a crise da cidade são realidades que não se pode ignorar e com relação às quais não se pode deixar de tomar – mesmo involuntariamente – uma posição (ARGAN, 1998, p. 221. HISTÓRIA DA ARTE COMO HISTÓRIA DA CIDADE).

quarta-feira, maio 17, 2017

Carta Lambe- isso de repente é arte?

Belo Horizonte, 25 de abril de 2017.

Caro (a)

“A VIDA É A ARTE DO ENCONTRO”.

Desde 2011 realizamos a ação artística “Irmãos Lambe-lambe” nas ruas e praças de Belo Horizonte e encontramos com diferentes pessoas. Encontros sempre especiais porque repletos de afeto, alegria, memória e gestos de proximidade.

Encontro com uma cidade possível e que nos confirma a força do HUMANO!



A cidade somos NÓS!!! Nós construímos cotidianamente a cidade que desejamos viver!
Encontrar com desconhecidos e partilhar com eles um pouco de suas histórias de vida e fatos cotidianos e ainda registrá-los numa fotografia é sempre um momento especial e significativo quando vivemos tão apressados e pouco dispostos a conversar, a se arriscar a conhecer pessoas estranhas, a desacelerar...

ISSO DE REPENTE É ARTE?

Juntamente com o SESC PALLADIUM (em sua programação cultural desse mês) buscamos unir arte e cotidiano, vida e estética, corpo e coletividade. Uma arte que de repente nos traga surpresas e bons encontros! A arte como possibilidade de se considerar os outros como sujeitos fundamentais para uma cidade de fato comum, humanizada, de todos e para todos!

São esses encontros que nos revelam que é possível viver numa cidade que se procura em cada um de nós!

ISSO DE REPENTE É ARTE?
SIM! SE FIZERMOS A NOSSA PARTE!!!!

Obrigado pelo lindo encontro que tivemos e que está registrado nessa fotografia que te enviamos!

Abraços,


Irmãos Lambe-lambe (obsCENA- agrupamento de pesquisa cênica).

sexta-feira, maio 12, 2017

Nova carta "Irmãos Lambe-lambe" - despedida Casa de Passagem (GRUTA)

Belo Horizonte, 15 de abril de 2017.

Caro(a)

No canto do passeio
tinha uma cadeira.
Tinha uma cadeira
e um quadro
no canto do passeio.
No meio da cadeira
tinha um espaço vazio
à espera de uma PRESENÇA!
No meio do passeio

Tinha um grupo de pessoas
e uma cidade em movimento!
No meio da cidade
tinha uma rua com passeio, cadeira, quadro e gente:
eu, você, elas, eles, NÓS!



No meio da cidade
tinha um ENCONTRO
que poderia acontecer ou não
em meio ao inesperado!
No meio de uma tarde
tinha tanta coisa em volta
Mas nos encontramos
NO CENTRO DA VIDA!
Recebe agora essa fotografia
e relembra a ALEGRIA desse dia!


IRMÃOS LAMBE-LAMBE (OBSCENA- agrupamento de pesquisa cênica)

quarta-feira, maio 03, 2017

Quem tem medo da arte do desconcerto?

Quem tem medo da arte do desconcerto?


“Arte Contemporânea é a experiência do desconcerto: estamos confrontados com a dispersão dos locais de cultura, diversidade de obras apresentadas em seu número sempre crescente, o número crescente de artigos e revistas influenciados por críticos de arte e o público está no mínimo desconcertado” (CAUQUELIN, 2010).


Experiência do desconcerto e do risco. Assim vejo a participação do Obscena na programação do mês de abril do Sesc Palladium. Mais diferente do que afirma Anne Cauquelin, a parceria de uma importante instituição com um agrupamento de artistas independentes se efetuou numa poética da subversão. Explico: quem viveu mais intensamente o desconcerto dessa vez foi a arte. Ela, os artistas e locais de cultura foram questionados pelas pessoas comuns, da rua, e nessa operação de crise e intenso contato, acredito que todos saíram ganhando. 

A produção de cafés-conversas na rua mostrou que quando arte deixa de ser assunto de especialistas e se torna interesse comum, sua função social se expande consideravelmente. O Sesc Palladium se ampliou para a rua e a polifonia e diversidade urbanas ecoaram no prédio da instituição. Nesse jogo entre dentro e fora:  uma política dos Encontros. Mas foi necessário que instituição, artistas e transeuntes se abrissem à experiência do risco e do desconcerto. Dos conflitos, mais do que confrontos. Dos dissensos, mais do que acordos. Não eram aulas públicas sobre arte, eram debates nos quais perguntas eram mais importantes que respostas, posições e certezas eram colocadas em xeque e mais: todos podiam se expressar livremente.

Imagem de Marúzia Moraes


Como manter durante quatro encontros abertos a vibração dessas conversas e a criação de espaços nos quais diferentes saberes pudessem se cruzar? Como não cair no perigo de se “palestrar para os leigos” ou então não se banalizar o fazer artístico? Como de fato tornar pública uma conversa quase sempre restrita aos “iniciados”? Uma espacialidade horizontal e uma mesa de café posta no passeio de fato garantiriam a circulação da palavra e o desconcerto dos conceitos e preconceitos de todos os presentes? Então tudo poderia acontecer. Toda e qualquer pessoa poderia se integrar ao evento. Todos os ruídos da cidade poderiam compor. Não havia porta, grade, parede, segurança. Havia uma reunião de cidadãos interessados e gente que parava, escutava, tomava café, ia embora. HAVIA UM DESEJO DE SE ENCONTRAR E CONVERSAR! Havia um corpo coletivo. Havia uma ética do encontro. 


Quando a arte se aceita porosa aos questionamentos, críticas e dúvidas de todos, acredito que gestos de proximidade são instaurados. Isso certamente revigora o fazer artístico, o coloca mais perto da vida social. Arte desconcertada como bem comum. Artistas já “falam” através de suas obras e mesmo em debates com o público continuam mantenedores do discurso, falando mais do que escutando.

Comecei esse texto com uma citação de uma renomada crítica de arte e o termino com a fala de Gildete, frequentadora assídua de nossos cafés e importante debatedora, uma mulher do povo:

“Bem que eu desconfiava que saberia conversar sobre arte”.

Então fica a questão: “quem tem medo da arte contemporânea” ou: “que arte tem medo do desconcerto que pode ser criado pelo cidadão comum”?

quarta-feira, abril 26, 2017

espaço dos encontros- café obscênico

no terceiro café Denise Pedron terminou a conversa lendo pequenos textos da Eleonora Fabião sobre a força dos encontros!

no último café Dona Margarida trouxe textos impressos para distribuir para todos os presentes e novamente o tema do encontro!!!

espaço comum com muitas falas se ENCONTRANDO e todos de alguma forma construindo esse lugar afetivo e aconchegante numa rua da cidade!!!!

Vamos sentir saudades dessas conversas regadas a café, afetos, provocações e encontros sem fim!....

ARTE, CIDADE E VIDA!!!





domingo, abril 23, 2017

Algumas questões sobre festejar na cidade

1  Conseguimos de fato deambular e criar ambiências festivas ou nos fixamos num único lugar?

-  Quanto tempo é necessário para se instaurar um espírito festivo?

3  Precisávamos de mais tempo livre ou tempo indeterminado para a festa acontecer?

4  O foco foi deambular ou o ato de se deslocar para o Sesc Palladium e lá festejar?

5   Conseguimos convidar pessoas da rua e dos bares para adentrar o espaço do Sesc?

  Como não controlar fluxos e corpos?

7  O que se perdeu e se ganhou nessa experiência? O que se revelou? Foi “fracasso e sucesso”?

   O que se alterou em relação às experiências já vivenciadas?

9   É possível se “repetir”, se voltar à essa ação? De que forma?

1  O QUE PODE UM CORPOFESTEJAR?

quinta-feira, abril 20, 2017

a cidade polifônica

Conversas públicas

Os nossos cafés de rua têm se revelado como uma ação potente! Está se tornando um ponto de ENCONTRO! Bonito ver as pessoas voltarem para conversar, no mínimo temos umas seis pessoas que participam ativamente desde o primeiro dia. No geral as pessoas são passantes que páram e ficam um tempo com a gente!!!  Essa dimensão de CONVERSA PÚBLICA é muito bonita, presenciar a circulação de ideias e diferentes olhares sobre arte, a cidade como espaço de CONVÍVIO mesmo.... Tem algo no campo do afetivo, da experiência estética e cidadã se encontrando e nesse momento de fala e escuta somos todos ARTISTAS. De fato, a voz da rua ganha espaço e as pessoas agradecem a gente e ao SESC Palladium esse retorno de uma "communitas" mesmo, ainda que temporária. 





Em nosso terceiro café (que teve a presença de Denise Pedrón e sua caixa de surpresa) um homem de repente presenteou um rapaz com um livro! Isso é tão significativo. A senhora que vem de Santa Luzia e traz uma garrafa de chá prá compor a mesa de café, enfim, GESTOS mínimos nessa celebração coletiva. Uma mulher cadeirante que foi ao cabeleireiro no centro e de repente descobre o café e vem nos contar sua experiência de não acessibilidade nos espaços públicos e culturais.  E nós, propositores e artistas, de fato AFETADOS com perguntas tão importantes, e mais: questões sem fim, mas que tornam o fazer artístico mais poroso aos contatos. Não é apenas a ideia de recepção, prá mim é PRODUÇÃO no campo da arte, do pensamento, da política, da cidade, dos espaços culturais. Uma criação de um corpo coletivo, espaço de trocas, debates, liberdade de estar, sair, comer, levantar, atravessar a roda... Falar e não falar.

A comunicação urbana é potencialmente visual e principalmente informativa. Existem as narrativas da cidade e sobre a cidade, como existem as narrativas dos habitantes. Do anúncio de vendas ao CONVITE para uma conversa, prosa com café! O deslocamento do doméstico para a via pública numa ocupação-LUGAR sem portas ou paredes. Todos podem se aproximar!!!! Todos podem falar. Cidade falada e escutada. Multidão de murmúrios, expressões, ruídos e textos:

“Das polifonias urbanas. Múltiplas vozes, até mesmo dissonantes, que desenvolvem uma criatividade não subalterna e que deve empurrar para a frente, que não é quieta e nem se acomoda. O paradigma inquieto de uma cidade que deve ser vivida de dentro e de fora”. (Cidade Polifônica. Massimo Canevacci, 1993).



sexta-feira, abril 14, 2017

Do crível ao incrível na cidade


A finalização da oficina “Tatuagens urbanas: inscrições no corpo da cidade” foi com uma ação coletiva de caminharmos pelo centro urbano e lermos textos diversos para as pessoas. Na obra “ A Invenção do Cotidiano” de Michel de Certeau há um capítulo sobre caminhadas na cidade que articulo com minha experiência vivida recentemente na oficina. Certeau vai aproximar as enunciações linguísticas e textuais às enunciações pedestres vendo nisso um percurso análogo. O jogo dos passos e o jogo das palavras (sentidos), moldando espaços e tecendo lugares de encontro, afeto, estranhamento e conflito.  Gestos próximos a alagamentos, desvios, vazios, elipses e re-escrituras  na vida ordinária da cidade.

Nessas aproximações entre práticas espaciais e práticas significantes, o referido autor vai identificar três instâncias: o crível, o memorável e o primitivo. Seriam dispositivos simbólicos presentes e ao mesmo tempo fugitivos à sistematicidade urbanística. O crível estaria ligado a ideia de legenda, o memorável seria o aspecto da lembrança e o primitivo abordaria o sonho.

O crível como habitável é o que permite a funcionalidade da vida urbana com seus códigos e normas. O memorável como aquilo que se repete pelo exercício da lembrança e pode presentificar ausências. E o sonho, como o infantil, aquilo da categoria do lúdico, de uma erosão à uma certa racionalidade e dimensão adulta presente nos espaços.

Um dos encontros mais bonitos que tive foi com um jovem trabalhador de uma pequena mercearia no centro da cidade, que ao me ouvir lendo trechos da obra de Clarice Lispector, também afirmou que a vida é absurda. E me apontou num canteiro localizado na Av. Augusto de Lima uma ÁRVORE que por dois anos foi sua casa. Ouvi narrativas tão surpreendentes desse jovem que escolheu viver debaixo de uma árvore, que o crível se transformou em incrível.  O EXTRAORDINÁRIO VIVER!!!!

O livro do mundo mais surpreendente do que o livro poético! Matheus habitava a casa do jovem e depois leu para ele alguns poemas que trazia. Para Douglas que espaço seria aquele? Sua casa e sua rua e sua cidade? Público ou íntimo? Entre-lugar? Lugar de quem?

Foi nessa caminhada obscênica que experimentei a subversão das legendas (códigos de leitura e usos da cidade) pelo memorável e pelo sonho! O deslizar e deslocar nas superfícies legíveis cria na cidade planejada uma cidade metafórica e subjetiva.  Aquela árvore para mim ganhou agora nome, identidade, memória, singularidade! Aquele canteiro agora se tornou um lugar tatuado em minha pele.

“UMA ENORME CIDADE CONSTRUÍDA SEGUNDO TODAS AS REGRAS DA ARQUITETURA E DE REPENTE SACUDIDA POR UMA FORÇA QUE DESAFIA OS CÁLCULOS” (KANDINSKY APUD CERTEAU, 1994, p. 191).

Mas talvez uma força mínima, quase uma "arte fraca", a tática como astúcia na visão de Certeau. Uma cidade surpreendida por uma tática de carne que desafia e subverte os cálculos e  o planejamento de pedra, numa alusão ao livro de Richard Sennet. 

Um cruzamento de duas táticas nessa experiência: a tática ordinária de Douglas com a criação de sua casa-árvore em meio à cidade e a produção de uma tática poética de nós, experimentadores da cidade, o que nos permitiu pela ARQUITETURA DOS ENCONTROS celebrar arte e cotidiano como elementos extraordinários.

Isso de repente é arte? Isso é de repente cidade? Penso que isso é cidade SEMPRE, em suas suburbanas e impensáveis marcas e inscrições. Enunciações mínimas e profanas. Gestos clandestinos. Tatuagens e atuagens humanas. Das legendas inscritas às sub-inscrições temporárias.


quinta-feira, abril 13, 2017

Corpo e cidade- relato da oficina (fala do Raiô)


Imagem de: Lorena Zchaber

"A experiência de vivência na cidade foi forte definitivamente. A ideia de que a cidade é pulsante, viva e cheia de estímulos ficou nitidamente estabelecida no momento em que me dispus a entrega e ao momento.  falta de domínio sobre a situação é um incomodo , que foi superado, e mais ainda , de um determinado momento  em diante eu quis não ter controle , apenas receber e doar de maneira natural compondo com a cidade .As inscrições me pareceram fundir entre cidade-corpo-cidadão-artista de modo indissociável . De maneira permanente fui afetado, percebi que determinados movimentos são subitamente denunciados como proibidos na cidade, simplesmente por não compor com o fluxo. Experimentar a coletividade na performance foi muito gratificante. Enfim muitíssimo obrigado a todos pela experiência. (Já quero mais)"
Raiô

Isso de repente é arte?

ISSO DE REPENTE É ARTE?

Alegria de comemorar dez anos do Obscena com uma intensa programação de atividades no Sesc Palladium (BH) no mês de abril.
Cafés-conversas na rua, ações interventivas e compositivas, produção de vídeos, oficina e festa!!!






Nos “cafés-conversa” a possibilidade de conversar sobre arte na rua com passantes, artistas, convidados e todos que desejarem colaborar! O primeiro café foi mais intimista e surgiram temas como dom, talento, acessibilidade, quem define o que é arte, misoginia etc. Já no segundo utilizamos um microfone que foi um atrativo para chamar pessoas e criar curiosidades. Os temas foram artesanato, o mercado de arte, sobrevivência, arte e política, arte e ocupação de espaços urbanos! Percebo polifonia, dialogismo, conflito de opiniões, espaços de convívio, desejos de trocas reais... Uma ação sempre no imprevisível, no equilíbrio precário de quem fala e de quem escuta, na partilha da comida, sempre perigosa porque pode se tornar uma aula acadêmica ou uma discussão vazia..... Mas o mais interessante: todo mundo fala, opina, pergunta, atravessa. corta, sai, chega, liberdade de estar, entrar, sair, interromper, parar para comer, propor conversações.




Na oficina “Tatuagens urbanas: inscrições no corpo da cidade” tivemos a oportunidade de trocar nossas práticas com diferentes pessoas e juntos tatuarmos e atuarmos no espaço urbano. Das marcas inscritas na cidade às inscrições poéticas (plásticas, visuais, corporais) que produzimos. Da atividade à receptividade. Dos mapas impostos e funcionais à criação de mapas subjetivos e afetivos.  No primeiro dia uma caminhada silenciosa e coletiva para se deixar imprimir pelas vozes, forças, velocidades e inscrições presentes no corpo urbano. No último dia uma caminhada com livros para inundar a cidade de palavras faladas e escutadas. Cantadas. Sussurradas. Nós com os livros impressos de literatura, teatro, poesia e manifesto em diálogo com os livros do mundo, as vidas cotidianas, o contato com os impossíveis e as narrativas anônimas que habitam a cidade!
Nos vídeos “Atos 10:34”, as imagens dessas cidades invisíveis, tatuadas, coloridas, cidades falantes, marcadas pelo conflito, pelo afeto, pela memória, pelo encontro, pelo medo, pelo desejo de comum....

Isso de repente é arte?
O que é arte, de repente?
O que é isso?


Alegria de voltar prá rua...... estar na rua! Ocupar a rua!!!!! Abraçar a cidade!!!!!

Isso é uma escrita tatuada pela experiência tão intensa e viva desses últimos dias!!!


Isso de repente é arte? Isso é vida.