agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

segunda-feira, novembro 26, 2012

As vozes de Virginia Woolf

No primeiro dia do intenso programa artístico apresentado pelo Obscena no Centro Cultural da UFMG, no evento "Música e Poesia", foi partilhado o percurso de criação da montagem de AS ONDAS de Virginia Woolf, parceria do Obscena com o N3PS - Nômades Permanentes Pesquisam e Performam.


Dizem que a autora inglesa era esquizofrênica. Ouvia vozes. Nesta obra escutamos as vozes de sete personagens num jogo polifônico da mais alta literatura. O Obscena conseguiu trazer essas vozes para os espaços do Centro Cultural da UFMG, numa apropriação muito interessante. Realmente foi um convite ao público presente para perambular e visitar diferentes e impactantes lugares. Territórios inusitados, nos quais aconteciam micro-eventos e variadas formas e textualidades cênicas colaboravam para que as ondas se agitassem naquela noite. Ondas sonoras, visuais, de extrema poesia, unindo literatura, imagem e performers totalmente entregues à proposta.

O trabalho primou pela experimentação e pelo processo, com a contaminação e encontro de tantos corpos e sensações, que em determinado momento não havia mais distinção entre artistas e espectadores. Duas linhas nortearam a experimentação: num primeiro momento a SIMULTANEIDADE de ações (ou cenas) e depois a CONCENTRAÇÃO de todos numa única sala. Os performers possibilitaram ao público jogos de percepção e apropriação dos espaços. Tudo acontecia ao mesmo tempo como se aquele prédio fosse a tela mental de Virginia a escutar muitas vozes, cada uma ocupando determinado compartimento.

Fazendo jus à cena contemporânea foram utilizadas projeções de vídeo, luz, criação de espaços plásticos etc, o que possibilitou o surgimento de operações cênicas como fragmentação, justaposição e impossibilidade de narrativas. Tudo parecia um convite ao universo de sensorialidades. Performers liam trechos da obra, não houve interpretação, mas algo muito próximo a um depoimento pessoal.

Uma encenação in process que mostrou a reunião de muitas linguagens artísticas e que de alguma forma aproximou as pessoas à experiência vivida pela autora. O público pôde escolher onde ficar, o que escutar, criar seu próprio percurso dentro da vivência, o que mostra uma horizontalidade na proposta. Tudo começou de forma dispersa e no final, os performers juntos ao público, alguns momentos de silêncio e poesia e quando as luzes se acenderam já não éramos mais os mesmos. Engolidos por tamanha beleza dessas ondas momentâneas que intensificaram nossos sentidos. A força do Acontecimento!

quinta-feira, novembro 22, 2012

Coletivo TeiaMUV entrevista Obscena


O Coletivo TeiaMUV (Salvador/BA) trabalha com Performance Urbana e Dança Contemporânea, sendo integrado por Isaura Tupiniquim, Mab Cardoso, Maira Di Natale e Milianie Lage Matos, todas licenciadas em Dança pela UFBA. Atualmente, desenvolve o Projeto Teia e uma das etapas é um mapeamento de coletivos, no Brasil e no exterior, que trabalham com Performance Urbana.

ENTREVISTA*:
O que levou vocês a pensar a cidade como dispositivo para as ações artísticas?
Quando o Obscena começou, em 2007, havia um incômodo em relação ao modo como o teatro que fazíamos atingia as pessoas. Mesmo ocupando espaços alternativos e fazendo teatro de rua, tínhamos a sensação de que estávamos falando para um público já “ensinado”. Naquela ocasião havíamos lido o epílogo do Teatro Pós-Dramático, do Lehmann, e a idéia de uma “política da percepção”, de provocar uma “interrupção” no cotidiano mesmo do cidadão, do transeunte, nos instigava muito. Posteriormente, com a crescente privatização do espaço público em Belo Horizonte e a percepção cada vez mais nítida desse espaço como um espaço de passagem, no qual as relações estão esvaziadas, automatizadas, começou também a nos interessar a investigação de modos de provocar encontros que pudessem ir da ludicidade e do poético ao embate e ao manifesto, pois há, também, o interesse de produzir (em nós e no outro) outras percepções sobre o espaço urbano, sobre a arquitetura da cidade, seus lugares de “jogo”, suas “dramaturgias”. Uma vez que funcionamos como uma rede colaborativa de investigação teórico-prática, as pesquisas e interesses de cada um de nós têm uma certa autonomia e temos questões que, mesmo que perpassem os outros, podem ser mais específicas. Então, para um há o interesse em investigar os tempos/durações, os fluxos e ritmos que a cidade imprime às nossas ações. Para outro, interessa mais a heterogeneidade que é própria do urbano e a percepção das diferentes reações, do que o acaso e o inusitado produzem na relação com nosso trabalho. Para outro ainda, é a possibilidade de uma intervenção direta do transeunte sobre a “obra”, de uma resposta imediata, o que atrai nesse contato corpo-a-corpo com a cidade e o cidadão. Interessa o estado constante de risco, o caráter “perigoso” da rua. Para outro, as possibilidades do corpo em relação com a arquitetura e com o objeto, com as cores e as formas, é o que o instiga. O que nos parece muito claro é que não há o interesse, em nossa pesquisa, de funcionar como vitrine, como uma tela para a contemplação. Por isso, a opção pela intervenção urbana, ou seja, a opção pela provocação e pelo encontro.

Quais estratégias compositivas vocês utilizam no processo de criação para as Performances Urbanas?
É base da pesquisa que o Obscena desenvolve a criação em rede colaborativa, o que significa que o nosso trabalho é desenvolvido a partir de trocas e de um diálogo constante não somente entre os pesquisadores do Obscena, mas também entre o Obscena e outros coletivos de arte/artistas. Significa também que, além dessa “contaminação coletiva”, existe também uma desorientação hierárquica que se baseia na horizontalidade das relações criativas, permitindo uma autonomia dos pesquisadores. 
No aspecto propriamente poético, são eixos norteadores o work in process, a obra processual, e a noção de “experimentar o experimental”, que vem muito de nossa investigação das estratégias compositivas de determinados artistas plásticos, como Artur Barrio – uso de materiais precários, ações não representacionais – e Hélio Oiticica – experimentação de elementos plásticos, como as cores e as formas, e o estudo de “arquiteturas/ambientes” – além de Lygia Clark, com a discussão da casa-corpo e dos espaços arquiteturais, além do uso de objetos relacionais. Além da pesquisa da obra e pensamento desses artistas, faz parte de nossa pesquisa, elementos de view points, a psicogeografia urbana e a deriva, o corpo-instalação e a prática de exercícios perceptivos. Há a procura constante de um imbricamento entre teoria e prática, no nosso trabalho.

Vocês percebem algum tipo de reverberação, subjetiva e/ou objetiva, das suas ações artísticas na cidade? Como elas se dão?
Como havíamos dito acima, uma das coisas que nos instiga bastante na opção pela cidade como espaço de jogo para o nosso trabalho é justamente as reverberações imediatas, as diversas re-ações do transeunte em relação às ações que, muitas vezes, o atingem de modo muito singular. Algumas pessoas mergulham na ação, dela participam. Como foi o caso de uma moradora de rua, Elisângela Barbosa, durante a ação “Parangolé Coletivo” que ela integrou, nos acompanhando pela rua afora para construir arquiteturas efêmeras conosco. Foi tão forte para ela que Rosângela foi conosco para nosso local de residência e dividiu um pouco de sua história, voltando outras vezes. Outras são afetadas em sua subjetividade, a ação fala ao íntimo da pessoa, ela encontra conexões profundas com sua história, com suas questões pessoais, como ocorreu, por exemplo, na ação “Cadeiras”, quando uma mulher, ao ouvir a leitura de um trecho de “Um teto todo seu” (Virginia Woolf), disse: “essa aí é a minha vida”. Outros reagem com agressividade, sentem-se ofendidos, cutucados. É exemplar disso a reação de um homem durante a ação “Classificação Zoológica da Mulher”: ele ficou tão incomodado que começou a ameaçar as mulheres que participavam da intervenção. Outras vezes, no entanto, a rua pega aquilo que fazemos e joga fora. A rua é perigosa, instável, fora de controle. Não adianta vir com idéias maravilhosas, com conceitos fantásticos... pode acontecer do transeunte olhar aquilo e simplesmente desconstruir a idéia, negar a ação. Não tem como controlar a reação das pessoas, o que aquilo que fazemos vai provocar no outro. Mas sem dúvida o embate corpo-a-corpo com o cidadão possibilita uma percepção muito clara dessa reverberação. Além disso, como decidimos compartilhar nossas reflexões, registros, etc. por meio do nosso blog, ainda há essa reverberação também: muitas vezes as pessoas se interessam pelo nosso trabalho a partir daí e nos procuram, integrando nossa rede de colaboração.

Existe(m) algum(ns) artista(s) ou autor(es) dentre os quais você deseje indicar/compartilhar conosco?
Indicamos tanto os artistas/autores que alimentam diretamente nossa investigação – Artur Barrio, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Guy Debord, Hans-Thies Lehmann, Josette Féral, Eleonora Fabião, Michel Foucault, David Sperling, André Mesquita, Paola Bernstein, Wlademir Dias-Pino – como os artistas/coletivos que já trocaram conosco: Marcelle Louzada e Letícia Castilho (performers de Belo Horizonte/MG), Luiz Carlos Garrocho e Denise Pedron (pesquisadores e estudiosos da cena contemporânea), Os Conectores (Belo Horizonte/MG), VagoColetivo (Belo Horizonte/MG), N3Ps (Belo Horizonte/MG), Coletivo Quando Coisa (Ouro Preto/MG), Líquida Ação (Rio de Janeiro/RJ) e As Incríveis Laranjas Podres Performáticas (Londrina/PR).

 *Todas as respostas foram compostas colaborativamente.

terça-feira, novembro 20, 2012

Multipli-Cidades: um programa obscênico

Para começarmos a aquecer para a II Mostra do Obscena Agrupamento, que acontecerá, amanhã e dia 22, 23, 24. No Centro Cultural da UFMG, na avenida Santos Dumont. Começaremos apresentando fragmentos do processo Ondas, nova montagem do Obscena e N3Ps e artistas convidados http://www.youtube.com/watch?v=e9IpRSt_Cyg

segunda-feira, novembro 19, 2012

Oração que sobe e desce

Revirando os antigos cadernos de pesquisa e encontro esse poema.



Oração que sobe e desce

                                                    Foto de Clarissa Alcantara


Salve Padilha, cheia de Graça!
O furor é convosco.
Maldita sois vós entre todas as mulheres
E bendito é o puto do vosso ventre
Buraco de luz.
Senhora das Compaixões Corporais
Rogai
Por nós fodedores
Aflitos por sexo, comida e alento.
Nos livre do relento
Da solidão
Sempre nos dê um corpo
Um passatempo
Um passa a mão...

Salve Padilha, Cheia de Graça!
Senhora dos Amores
Protege a nós pecadores
Agora e na hora
De nossa foda
Amém.

02/05/2011.

você contente eu contesto



VOCÊ CONTENTE EU CONTESTO

INDIGNAÇÃO
EUSINTO
EUMANIFESTO
Crio PERFORMANCES
ATOS E GESTOS
IN(TENSÃO).

INDIGNAÇÃO
EUGRITO
EUPROTESTO
Crioper FORAm-se
ATOS INDIGESTOS
INTENÇÃO.

INDIGNAÇÃO
EURESPIRO
MEUCORPOEMPRESTO
Crio per FOR DANCES
ATOS HONESTOS
DIS-TENSÃO.

INDIGNA-ME TUA AÇÃO!
TEU SILÊNCIO f u n e s to.
TEU JOGO ESPERTO
TUA SUMISSÃO.
Crio PERFODAM-SE
ATOS MODESTOS
TRABALHOS DE NÃO!

sábado, novembro 17, 2012

Carta à Presidenta



Foto de Whesney Siqueira


Excelentíssima Sra. Presidenta Dilma Rousseff, 

Eu, Nina Caetano Guarani Kaiowá me dirijo à presidenta dessa gloriosa nação outrora chamada Pau-Brasil, para lembrá-la do compromisso que a senhora, na qualidade de nossa chefe maior, tem com
 a constituição de nosso país e com seus povos originais.
Quero lembrá-la do compromisso que a senhora tem, como chefe maior dessa terra manchada com o sangue sagrado dos mil povos, de garantir aos seus descendentes a terra que nutre a permanência não somente de sua cultura, mas de suas condições de sobrevivência.

Sou professora, sou performer, sou artista. a única ferramenta que tenho são minhas palavras e meu corpo. E não posso deixar de lembrar, quando vejo a foto de um índio KAIOWÁ morto, espancado, enforcado, baleado. não posso deixar de lembrar de um espetáculo: Caixa Postal 1500. 
Peço-lhe, excelentíssima Presidenta, que me permita contar essa história, tão bem gravada em meu corpo. O ano é 1999. Há 13 anos atrás, portanto. Eu fazia meu último papel como atriz. E eu, naquela época, já era uma GUARANI KAIOWÁ. Já naquela época, o índice de suicídio entre esses índios aculturados desterritorializados era um dos maiores do mundo. Sem direito à sua terra, na qual podem gerar alimento para os seus e condições dignas que permitam a eles sobre-viver sem ter que recorrer à prostituição e/ou à mendicância, os kaiowá vêm perdendo, progressivamente, sua identidade, sua auto-estima. Nem são vistos ou se reconhecem como brancos, nem são valorizados e então se reconhecem como índios. Eles vagam em busca da Terra sem Males.
Caixa Postal 1500, espetáculo realizado no desejo de discutir os 500 anos do "descobrimento", terminava com Bernardo Kaiowá, o último jovem da tribo, matando-se enforcado, enquanto uma batalha de hinos de futebol terminava em sangrenta guerra de torcidas.
Eu, Nina Caetano Guarani Kaiowá, cidadã brasileira, performer, professora, artista, comprometida em minhas ações com o nosso país, sinto uma tremenda indignação ao ver essa situação não somente perdurar, mas piorar.
E digo: Está na hora, Senhora Presidenta dessa gloriosa nação outrora chamada Pau-Brasil: está na hora de agir e evitar que esse GENOCÍDIO - não somente dos kaiowá, mas de todas as 240 etnias restantes - continue.
Sou, como a senhora, uma mulher guerreira, de traje vermelho. E digo: somos todos guarani kaiowá. Indigne-se.
Mui respeitosamente, Nina Caetano Guarani Kaiowá
No Ano 456 da Devoração do Bispo Sardinha

segunda-feira, novembro 12, 2012

MULTIPLI-CIDADES: UM PROGRAMA OBSCÊNICO



Intervenções urbanas/performances de rua, mostra de processo criativo, conversaredonda e lançamento de livros.     
Toda a programação cultural é gratuita.
Endereço do Centro Cultural da UFMG: Avenida Santos Dumont, 174 - Centro
                    

DE 21 A 24 DE NOVEMBRO DE 2012

21 de novembro, quarta-feira
Ondas:
Participação do Obscena no projeto Música e Poesia do Centro Cultural da UFMG  - Fragmentos do percurso da montagem Ondas, livremente inspirado no romance As ondas de Virginia Woolf.
Onde: Centro Cultural da UFMG
Horário: 20:30h

22 de novembro, quinta-feira
Intervenções coletivas:
Cadeiras
Surra D´água
Onde: centro de Belo Horizonte
Horário: período da tarde

23 de novembro, sexta-feira
Performances individuais:
Engaio Lados
Manifestos em ação
Onde: Praça da Estação e arredores
Horário: manhã e tarde

24 de novembro, sábado

Lançamento de Livros:
corpoemaprocesso / teatro desessência de Clarissa Alcantara, pós-doutora em Teoria Literária (UFSC) e Psicologia Clínica (PUC/SP). Num corpo físico feito em pedaços, há um corpo unido, como o corpo sem órgãos que se expressa em Antonin Artaud – autônomo e anônimo ele se dá um pseudônimo suspenso num paradoxo indissolúvel. Uma práxis/teórica que se executa numa tese de doutorado, arriscando outros campos possíveis à arte da performance.
Persona Performática de Ana Goldenstein Carvalhaes, mestre em Estética e História da Arte (USP). O livro é um percurso que constitui um aprendizado, “um caminho a se aprender, mas não naquele sentido de quem sabe versus quem é ignorante. É um guia sem segurança, sem fim ou princípio.  
Onde: sala 3 - Centro Cultural da UFMG  
Horário: 15h às 16h30

Conversaredonda "Performance: corpo-pensamento"
Clarissa Alcantara, Ana Goldenstein e Obscena Agrupamento
Onde: sala 3 - Centro Cultural da UFMG
Horário: 16h30 às 18h




MultipliCIDADES, A FESTA
Festa de Encerramento do Programa Obscênico e da Mostra Cantautores
Atrações: 
Obscenidades na Pista (na discotecagem: DJota, DJ Frida e DJ Shaitemi Muganga, com interferências visuais de Aindadá)
Show da Banda Tião Duá (Luiz Gabriel Lopes, Gustavo Amaral e Juninho Ibituruna)
Quando: sábado (24/11)
Onde: Gruta! - Rua Pitangui, 3613 loja C - Horto
Passagem: R$ 10,00
Horário: 22h



INTERVENÇÕES URBANAS/PERFORMANCES DE RUA
Cadeiras
A intervenção coletiva CADEIRAS é uma experiência da corpografia urbana. Trata-se de um uso ampliado das cores, palavras, ruídos, textos da literatura, silêncios e formas na/da cidade. Uma intervenção que se propõe a destacar, juntar e recriar variadas composições corporais e espaciais, colorindo as ruas. Tais composições desenham inusitadas geometrias que podem afetar a percepção dos transeuntes.

Surra D´água
Como as palavras se corporificam na violência das águas? A partir dessa questão, o coletivo Líquida Ação propõe uma leitura em ambiente urbano. Uma leitura alterada, modificada. Um diálogo de corpos textos líquidos.
Proposta realizada pelo Obscena Agrupamento dentro do projeto virtual Trânsitos Performáticos: alimentando a rede.

Manifestos em ação
Ações simultâneas formam um ato performativo e micropolítico sobre a situação dos índios Guarani Kaiowás no Brasil. As ações foram inspiradas no gesto poético “o espaço do silêncio” proposto pelo artista visual Artur Barrio. Uma metáfora do silêncio como ferramenta de indignação em relação ao genocídio que vem ocorrendo com os índios no Brasil há 512 anos.

Ações:
O espaço do Silêncio - Nina Caetano
O suicidado - Leandro Acácio

Engaio Lados
Prática criativa que faz nascer um corpo em intensa relação com o seu fora, no seu livre jogo com as sensações. Um corpo que, no passeio pela cidade, raspa as linhas duras do mundo, denuncia um rosto e aventura-se no desconhecido, percorrendo uma cidade incerta e cheia de conexões.
Performers: Joyce Malta e Matheus Silva




quarta-feira, novembro 07, 2012

Performances da Indignação

Sábado à tarde, 03 de Novembro, em plena Praça da Estação de Belo Horizonte, um movimento estranho de pessoas chamava a atenção de quem por ali passava. De um lado havia um expressivo grupo de jovens sentados no chão. Eles conversavam, se pintavam com jenipapo e  produziam cartazes coloridos com o escrito “somos todos kaiowás”. Depois prendiam esses cartazes nas árvores. Presenciei pessoas parando e conversando sobre aquilo. Isso seria uma performance na cidade? Mas de que natureza?


Do outro lado, uma mulher pintada como indígena, ocupava um espaço branco que aos poucos se manchava com a criação e exposição de pequenas cruzes feitas de durex vermelho, algumas retiradas de sua boca. Uma cruz silenciava uma voz, um grito, um choro de dor e revolta.  Em outros momentos, essa mulher se sentava em sua cadeira também vermelha (parecia um trono ou um altar sagrado) e apenas mostrava algo escrito para as pessoas curiosas que paravam. Palavras como genocídio, a saga dos índios, a História do Brasil, entre outras, eram apresentadas como numa narrativa de filme. Mas o olhar da mulher, seu silêncio, suas pausas corporais, a fixação das cruzes no tecido aberto no chão, tudo isso remetia à violência e sangue. Um protesto em meio à correria da cidade. Uma instalação plástica triste e ao mesmo tempo bela. Uma obra de arte.

Essa intervenção coletiva, organizada através de redes sociais, demonstra a força da ação de uma parcela da sociedade civil, que se indigna diante da ameaça da morte anunciada pelos nossos índios guaranis kaiowás. Se de um lado havia um grupo de jovens engajados numa causa social que se tornou nacional; de outro, o que perturbava era a ação artística criada pela performer Nina Caetano.




                                                       Fotos de Whesney Siqueira


O trabalho “O Espaço do Silêncio” de Nina (pesquisadora do agrupamento Obscena) pode se configurar como um ato artístico e político. Numa conversa logo depois do evento, ela relatou que o convite foi destinado a vários artistas para que cada um pudesse criar sua ação de indignação. Para ela: “uma ação artística como uma posição em relação a esse silêncio sobre a situação dos índios no Brasil, esse genocídio que vem ocorrendo há 512 anos. E a gente deixa acontecer. Eu também. Todos nós”.

No texto “Práticas e poéticas do político” (2012) a autora Ileana Diéguez aponta para a existência de um traçado de performatividade e teatralidade nas ações e manifestações sociais e políticas que ocorrem em alguns países da América Latina. Para a autora haveria uma prática de uma cidadania, que não apenas obedece, mas se posiciona como dissidente do sistema e busca a visibilidade de questões desprezadas pelo poder do Estado. Haveria a “alta política” (a oficial) e o “político”, ou na minha leitura, o micropolítico. Aquilo que podemos operar e transformar no cotidiano, no pequeno mesmo, fazendo não mais uma revolução, mas um levante. Haikim Bey em seu livro “TAZ” (Zonas Autônomas Temporárias) fala disso. O levante aparece e desaparece logo depois. É nômade, temporário e não capturável. Um ataque às estruturas de controle, essencialmente às ideias.

Interessa-me a relação entre arte e ativismo. Ou então artivismo. Corpos insurgentes. A prática de uma indisciplina pela poesia e provocação. Desejos de rebelião e contestação dos fatos. Arte para suscitar acontecimentos e acometimentos variados.

Outro artista indignado, Leandro Acácio, também pesquisador do Obscena, veio criar seu ato de manifestação e performação. De cara pintada e vestindo um longo tecido vermelho, ele se colocou com uma corda no pescoço, amarrada numa árvore. Metáfora do suicídio diário dos índios kaiowás. Houve certa tensão nesse momento. A polícia surgiu e questionou o perigo dessa ação. Mais uma instalação, uma imagem oferecida, um corpo paralisado e rendido a criar outro “espaço do silêncio”.

Numa leitura dessas performances percebo a importância desses artivistas ocuparem um pedaço de terra na cidade. Como os índios kaiowás, nós também estamos perdendo nosso direito ao espaço público. São invasões silenciosas e silenciadoras a nos constranger, restringir e ameaçar. Estratégias de submissão e medo. Tudo em nome do lucro, do desenvolvimento industrial, da Copa do Mundo, da propaganda de uma cidade como modelo a ser seguido.

Sim, somos todos kaiowás. Nós, os cidadãos, os artistas, os moradores de rua, os vendedores ambulantes, os hippies da Praça Sete, entre outros. Sim. Nina Caetano Guarani Kaiowá denuncia a luta indígena e a situação dela mesma como moradora dessa cidade. Quantas praças privatizadas! Lugares proibidos para o uso livre das pessoas. Proibido deitar. Proibido beijar. Proibido pisar. Proibido se manifestar. Proibido performar. “Tem autorização para fazer isso aqui?”.

Ação e Açã

Penso na coragem das pessoas e artistas que se manifestaram sobre uma questão tão urgente e necessária quanto a dos índios kaiowás. Autorizaram-se. Quem pode então nos acusar de que somos todos despolitizados? Esses manifestantes afirmaram o POLÍTICO PELA VIDA.  Pode parecer que foram muito poucas as pessoas que compreenderam a proposta deles. Mas um é MULTIPLICIDADE. Alguma coisa aconteceu sim naquela tarde de sábado. Conversas, dúvidas, fotografias, agressões e xingamentos. E tudo isso se espalhará pelas redes humanas sociais e digitais. E agora pelo meu texto.

O trabalho dos performers não foi apenas uma ação no ou sobre o nosso silêncio de brasileiros. Mas foi uma “AÇÔ, que na língua tupi-guarani significa gritar.   Para mim o silêncio gritou. Forte e pungente. Tento criar agora um “texto-voz” para aumentar a potência desse grito. No chão da Praça da Estação foram derramados pedidos de socorro.

Na performance social dos jovens e na performance artística dos “obscênicos”, o sentido de comunidade e solidariedade  foi resgatado. Lembro uma canção: “Minha gente somos um, seu solo é sagrado e sobre ele andamos UNIDOS”.

Unidas, essas Performances da Indignação cantaram o sangue derramado dos guaranis kaiowás, “filhos deste solo que sempre foi mãe hostil, Pátria Roubada Brasil”.