agrupamento independente de pesquisa cênica

Composto atualmente pelos artistas pesquisadores Clóvis Domingos, Flávia Fantini, Frederico Caiafa, Idelino Junior, Joyce Malta, Lissandra Guimarães, Matheus Silva, Nina Caetano, Paulo Maffei, Sabrina Batista Andrade e Wagner Alves de Souza, o Obscena funciona como uma rede colaborativa de criação e investigação teórico-prática sobre a cena contemporânea que visa instigar a troca, a provocação e a experimentação artísticas. Também participam dessa rede colaborativa obscênica os artistas Admar Fernandes, Clarissa Alcantara, Erica Vilhena, Leandro Acácio, Nildo Monteiro, Sabrina Biê e Saulo Salomão.

São eixos norteadores do agrupamento independente de pesquisa cênica, o work in process, os procedimentos de ocupação/intervenção em espaços públicos e urbanos e os procedimentos de corpo-instalação, além da investigação de uma ação não representacional a partir do estudo da performatividade e do pensamento obra de artistas como Artur Barrio, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Atualmente, o Obscena desenvolve o projeto Corpos Estranhos: espaços de resistência, que propõe tanto trocas virtuais e experimentação de práticas artísticas junto a outros coletivos de arte, como ainda a investigação teórica e prática de experimentos performativos no corpo da cidade. Os encontros coletivos se dão às quintas-feiras, de 15 às 19 horas, na Gruta! espaço cultural gerido pelo coletivo Casa de Passagem.

A criação deste espaço virtual possibilita divulgar a produção teórico-prática dos artistas pesquisadores, assim como fomentar discussões sobre a criação teatral contemporânea e a expansão da rede colaborativa obscênica por meio de trocas com outros artistas, órgãos e movimentos sociais de interesse.

sexta-feira, maio 27, 2011

Ocupe a cidade



O Obscena integra a programação do Galpão convida especial teatro de rua: ocupe a cidade, participando de intervenções junto aos coletivos Os Conectores e Paisagens Poéticas, nos dias 28 de maio e 5 de junho, do sabadão, no dia 04 de junho, no qual se discutirá a ocupação do espaço público e realizando invasões na cidade.



Festa Boulevard Arrudas
01 de junho, quarta feira. Noite. Imediações da Estação de Metrô Santa Efigênia

É festa porque é festa.
N...inguém nos mandou comemorar nada.
É festa! É festa!
Celebração!
......Precisa dizer mais alguma coisa?
A vida é festa!
Traje: Passeio completo.





invadir. ocupar. despir. juntar. derivar. provocar. projetar. perambular. penetr...ar. fluir. interpenetrar. tramar. complicar. desviar. comunicar. trabalhar. arquitetar. dobrar. traçar. percorrer. infiltrar. coagir. perder. gozar...
me segura qu’eu vou dar um troço!
INVASÕES OBSCÊNICAS NO CORPO DA CIDADE.
quinta, 02 de junho. Tarde. No baixo centro da cidade.







terça-feira, maio 24, 2011

Eros e a Ágora

Em resposta a minha última postagem no blog na qual perguntei como poderíamos recuperar uma relação mais erótica com a cidade, tive a alegria de receber uma resposta, na verdade, um belo texto do pensador e professor de Filosofia Whesney Siqueira.

Decidi transcrever o texto no blog por perceber a potência do pensamento na produção e discussão de questões tão importantes como a vida dos homens na cidade. Que bom dialogar com a Filosofia, Antropologia e com a psicanálise. Que bom ter um interlocutor como você, Whesney!!!

"Eros e a Ágora"


Whesney Aparecido de Siqueira

Eros, do grego, quer dizer da aproximação amorosa que se liga à atração física, mas não somente sexual como muitos acreditam. É um amor apaixonado que contempla a beleza. Um amor diferente das outras duas definições grega, Philia (amizade) e Ágape (amor em um sentido mais amplo, um afeto desinteressado).

A Psicanálise, em Freud, apesar de não definir Erótica, trata dessa palavra em diferentes partes, como qualidade ou caráter de um estado. Lacan, dirá que sexualidade e erótica não são coincidentes e que não é possível estabelecer padrões eróticos a serem alcançados, uma vez que ela se define em cada sujeito através das condições de gozo singulares delineadas pela fantasia inconsciente. Portanto, podemos definir Erótica como diferentes formas de gozo (Holck, 2004).

E, a Ágora, era a praça praça pública dos gregos, livre de edificações, um lugar em que o cidadão grego tinha para conviver com outros e, assim, discutir nesse espaço política, filosofia etc. Também era o espaço onde se faziam os tribunais populares, ou seja, um espaço de convivência e cidadania da pólis, expressão máxima da democracia. Diferente do que hoje se tornou as cidades modernas ocidentais.

No espaço urbano contemporâneo temos preponderância imagética e grande parte do que há nesse urbano está direcionado e pensado para a sociedade consumista. Os centros urbanos se tornaram lugares de passagem onde as pessoas ou trabalham ou vão e voltam do emprego. Ou seja, um profundo ativismo laboral. Hannah Arendt, no livro “A Condição Humana”, vai demonstrar características da vida ativa e da vida contemplativa. Nessa análise vamos entender melhor o que tornou a nossa Ágora moderna tão distante da Ágora grega.

Deixamos de contemplar a vida para desprender energia na produção de bens de consumo. Passamos de “zoo politikon” (Animais políticos, na Grécia) para “homofaber” (homem fabricador, na modernidade) e finalmente chegamos hoje na contemporaneidade como “zoo laborans” (animal consumidor); e assim, a todo custo, temos que produzir para comprar mais, para estocar mais, sendo essa ação totalmente inconsciente. Já não sabemos porque queremos comprar, mas queremos, e recebemos assim o status de animais, pois animalesca é a nossa forma de agir. Caminhamos pelo espaço público e nos entregamos instintivamente às vitrines. Não temos tempo e nem desejo de conversar e discutir o real valor da vida e dos objetos, porque a vida se tornou virtual e o valor se tornou fetiche.

E, assim, Hannah Arendt, fará uma interessante reflexão sobre o papel da tecnologia que facilita a produção em larga escala de bens de consumo e o ideal de felicidade que outrora fizera os homens se elevarem à condição humana, criando a política, a filosofia, a arte, a religião e as ciências e que hoje se declina elegendo o labor e o consumo como bem supremo de se alcançar a felicidade. Se a vida ativa é caracterizada pelas três atividades – o labor, a obra e a ação.A Vida do espírito”, é outro livro em que Arendt vai novamente repensar as questões levantadas em A Condição Humana, mas, agora, no âmbito da vida contemplativa. Assim, as principais atividades humanas seriam – o pensar, o querer e o julgar. Pensamento que só acontece com a possibilidade de elaboração individual e conjunta; o querer que é o desejo que o impulsiona a ser humano; o julgar que o possibilita fazer juízos sobre as diferentes realidades que existem fazendo-o comunicar e chegar a acordos, tornando-o assim, convivente em sociedade.

A vida ativa se pautada pela consciência é de extrema importância para que o humano seja humano. O homofaber, é o que faz do homem o fabricador das coisas, modificador do mundo em que vive, fazendo assim, se sentir pertencente e corresponsável junto aos outros homens. Mas, é na vida contemplativa que esse homem criará a consciência ética atentando assim para a relação de alteridade para com o todo.

Portanto, recuperar o sentimento amoroso do eros para com o público se faz urgente. A Ágora, nos faz chegar à condição humana, que não é dada, mas construída numa relação dialética entre agir sobre e, ser afetado. Buscar a verdade pelo eros e através da observação e do diálogo julgar bem, pensar e querer restabelecer o desejo da voz e do pensamento no Ethos da cidade.


Referência bibliográfica:

Holck, Ana Lucia Lutterbach Rodrigues. A erótica e o Feminino, Rio de Janeiro. Dinisponível em: <http://www.proex.pucminas.br/sociedadeinclusiva/IVseminario/normalizacao_monografias.pdf> Acesso em: 24.maio.2011.



sábado, maio 21, 2011

Obscenas Audiovisuais

Em nossos últimos encontros coletivos assistimos dois documentários muito interessantes: Lissandra levou "Noivas do Cordeiro" (2008) do Alfredo Alves e Joyce nos presenteou com a exibição de " A Negação do Brasil" (2000) do Joel Zito Araújo.

O primeiro fala de uma comunidade na região de Belo Vale/MG onde um grupo de mulheres se organizou para poder se defender dos preconceitos e hipocrisias de uma pequena sociedade mineira. Mostra como o poder pode circular, e como na auto-gestão, na horizontalidade, as coisas se transformam e a vida pode se tornar melhor.

Já o segundo documentário trata da questão do ator negro na televisão brasileira. Quanta luta, discriminação e tão poucos avanços! Será que o talento tem cor? Negar a presença do negro nas telenovelas é negar a constituição do povo brasileiro.

Pudemos através desses filmes, discutir um pouco mais sobre as questões das chamadas minorias no Brasil. Falamos de mulheres, homossexuais, pobres, negros etc. O fato é que há muito a se conquistar em nossa sociedade. E o exercício do pensamento aliado ao fazer artístico pode ser um lugar de potência, provocação e transformação.

Na última terça (17/05) participei como convidado da SEMANA FILOSÓFICA DO ISTA que teve no cinema um aliado para a produção e problematização de muitas questões e conhecimentos. Com o título: "LUZ! FILOSOFIA! AÇÃO! A filosofia sob a ótica do cinema" a psicanálise também teve seu espaço e sua voz, e assim pude ser um dos comentadores de dois curtas de animação.

O Backstage teve a exibição de dois curtas: "2004" de Edgard Paiva e "Passado Presente" de Filipe Carrijo. Com a presença dos cineastas pudemos discutir não somente a arte, a filosofia, mas também o espaço urbano. Ambos os curtas trazem referências à cidade ( no caso, um ônibus e uma estação de trem") e falei um pouco da privação da experiência corporal na cidade. Cidade hoje mais de pedra (arquitetura) do que de carne (gente). A solidão, a falta de contato, o fone de ouvido, o isolamento, uma certa falta de sentido de PERTENCIMENTO que nos joga no anonimato e aumenta nossa invisibilidade. Uma cidade narcísica, de pura imagem, espetacular, cidade -outdoor, mas oca e carente de mais vida, contato e encontro.

Como recuperar uma relação ERÓTICA com a cidade que habitamos?

quarta-feira, maio 18, 2011

Uma carta para ser abandonada

"Hoje tô de luto. Muitas coisas ruins têm acontecido nos últimos dias. Nos últimos meses. Intolerância, violência, preconceito. Por que as pessoas não podem viver em paz com suas escolhas? Por que impor ao outro nossa forma de pensar, sentir, amar?

Por que é tão difícil respeitar quem é diferente da gente? Queria que as coisas fossem mais simples. Queria que houvesse menos ódio no mundo. E mais AMOR."

Carta escrita por um pesquisador do Obscena (em colaboração para minha pesquisa) para ser abandonada sobre o corpo da cidade. Fiquei com vontade de ler, dizer esse texto nas ruas de Belo Horizonte...

domingo, maio 15, 2011

31 de março de 2011





depois de longos 60 dias de espera, juntando cada peça da KAZA, comprando os panos, consertando a cadeira, juntamos os utensílios de cozinha, compramos o mosqueteiro, desistimos do barraco, pensamos e juntamos objetos encontrados na rua e nos despejos do Centro Cultural da UFMG: restos que nos interessava.

forramos a poltrona, fizemos arranjos, pregamos, colocamos cada item dentro do carrinho de compras que, ao longo desses dias, foi sendo reformado, trocamos as rodas, soldamos a parte traseira e, agora, pronto.

objetos da KAZA são: sonhos, livros, comidas, água... na rua, transportando a KAZA, ganhamos ajuda, batemos prego, escolhemos os melhores lugares para os quadros, instalamos o mosqueteiro, quarto, cozinha, espaço de leitura e conversa.

é manhã de quinta-feira, sob regência de áries, 31 de março de 2011, nasce a KAZA KIANDA, na avenida santos dumont, 240, centro de belo horizonte. ao mesmo tempo morre: tereza, joão, pedro, maria ... e josé de alencar é velado no palácio da liberdade.

KAZA kIANDA - Intervenção Urbana, realizada pelos criadores Saulo Salomão e Leandro Acácio. Desenvolvida em rede com os artistas do OBSCENA, dentro do projeto 'Corpos públicos, espaços privados: invasões no corpo da cidade'. Projeto contemplado pelo edital: Cena Aberta, do Centro Cultural da UFMG.

domingo, maio 08, 2011

Incursão no corpo invadido pelo Y



Trabalhos do dia 02/05 - início de nossa incursão no corpo invadido pelo Y

O interesse pelo útero me pegou de jeito quando devaneava ao longo da Guaicurus e ao chegar no Terminal Rodoviário me deparei com uma mãe de uns 20 e poucos anos com seus 5 filhos. Eles se organizaram em torno das malas, como num ninho e ela sentada na lanchonete os examinava vez em quando. Havia muitas barrigas estufadas pelas ruas do baixo centro, mulheres muito novas e já sobrecarregadas de filhos e eu, no auge dos meus 31 a perguntar-me: _Que produção incessante é essa de mais e mais seres humanos? As mulheres estão abestalhadas? Cadê o nosso cuidado e autonomia sobre nossos corpos?

Essa histeria espalhada pela cidade me colocou na busca de mulheres sem úteros, muito mesmo para entender a ausência deste potente órgão e suas reverberações na construção do feminino.

"Aos 29 anos ela descobriu a invasão do Y em seu organismo, o médico a olha admirado e pergunta: _Como se sente sendo um homem?
Ela o retruca:_Uai?! Acho que vou pro Fantástico, né?!
Na adolescência constataram a ausência de órgãos internos femininos e nada mais se procuraram, uma vez que a menina se tornou moça perfeitamente, sim e sendo um HOMEM, é isso o que ela é. Com tetas fartas e quadris largos ela caminha do alto dos seus 1,80m e quem a vê não diz, ou talvez diga, e sim ela é um HOMEM = altas taxas de testosterona, um testículo necrozado, retirado às pressas, ausência de órgãos reprodutivos internos femininos - síndrome de morris"

Viajei com esta mulher para no norte de minas e pelo caminho contamo-nos nossas vidas, ganhei um presente, viva os devaneios! Estamos trabalhando todas as 2ª feiras, no CCUFMG, construindo ações e histérias, isso mesmo, histérias para serem contadas e recortadas. Queremos expor a invasão deste Y em sua construção e ressaltar as alterações que os hormônios femininos estão provocando nesta homemulher.

MINERAL - CRISTAL LEITOSO = silêncio, quietude, potência, aceitação.
LUVAS CIRÚRGICAS = visitas constantes ao médico, cirurgias, relação com a corpo; transformação/resignificação de objeto.
FITA CREPE = inseparável.
GIZ BRANCO = relação com a educação; processos fantasiosos mais ricos devido a ausência de livros?
PEDIDO DA ATUANTE: sapatos masculinos e 01 par feminino, 'anos 30', tamanho 50.

HORTA
ANOITECER
SORRATEIRO
ILÍCITO
SAPATOS, MUITO SAPATOS.

sexta-feira, maio 06, 2011

Cartas: corpos invasores e comunicadores de afetos humanos

Agora que a intervenção urbana "Cidade dos Afetos" já foi realizada, gostaria de registrar as três etapas sequenciais dessa ação coletiva que envolveu muitas pessoas:


1) Convite a um grupo de alunos de uma oficina de Artes Plásticas para pintar/decorar os papéis de carta. Motivo: flores. Ação realizada em colaboração com o artista plástico Cláudio Márcio e seus alunos do Projeto "Diversidade Em Ponto", que acontece na Associação Crepúsculo – Arte, Saúde e Educação Sem Barreiras;


Obras dos artistas crepusculares

2) Convite a um grupo de alunos de Teatro e outras pessoas para a escrita de cartas expressando sentimentos, afetos, memórias e histórias. Motivo: pessoalidades. Ação realizada em colaboração com a atriz e professora Elisângela Souza e seus alunos do Colégio Diversitas;

3) Convite aberto a todas as pessoas interessadas e desejosas de abandonar/perder essas cartas pelos espaços da cidade: ponto de ônibus, bares, calçadas e rodoviária. Motivo: abandonar afetividades pessoais em ambientes públicos e sujar a cidade de “papéis de carne”. Ação a ser desenvolvida pelos pesquisadores do Obscena e mais pessoas interessadas.

No caso tivemos a presença dos Conectores, e de Nadja, Enrique e Juliano Mendes (Ouro Preto) e Claudio Marcio (Associação Crepúsculo) e Elisângela Souza (Colégio Diversitas). Também escreveram cartas: Daniel Botelho, Renata do Paisagens Poéticas e Patrícia Campos.

Cartas foram perdidas para serem encontradas. Desejam encontros, comunicações e afetações. Pequenos grupos saíram pela cidade e experimentaram a ação. Acho que fomos coadjuvantes nessa ação poética, as cartas foram as protagonistas do trabalho. As pessoas que as encontraram não sabem que foi uma intervenção urbana... Isso me lembrou o abandono de Barrio de suas obras, mais atuando como um contra-regra do que um performer.

Erica registrou a ação na Av Santos Dumont e na rodoviária e Whesney fotografou o trabalho na sala do Centro Cultural da UFMG. Nina Caetano, não pôde estar presente na noite, mas escreveu e me entregou algumas cartas para a intervenção.

Esta ação encerrou a Mostra do Obscena e Lissandra disse que foi muito bom, que a intervenção a afetou com alegria e leveza, transformou a sensação de violência deixada pelo episódio de quinta-feira. Foram muitas mãos, desejos e sentimentos a colorir a cidade.

OBRIGADO A TODOS QUE ME AJUDARAM A REALIZAR ESSE EVENTO!!!